MARXISMO E VIOLÊNCIA I
por Valter de Oliveira
Conheço muita gente que afirma que o socialismo marxista é uma forma
de humanismo. Para essas pessoas não adianta mostrarmos as
monstruosidades do socialismo real. Aliás, muitos de nossos livros
didáticos de História até os anos 80 enfatizavam as grandes realizações
econômicas de Stalin ou o igualitarismo de Mao Tsé Tung. Só mais
recentemente começaram a mostrar o fracasso do socialismo. Com muito
custo.
Hoje muitos historiadores de esquerda reconhecem os
horrores cometidos por Stalin, Mao ou Pol Pot. Pelo menos até certo
ponto. Contudo, é bom ressaltar, não deixam de admirar o velho Marx.
Eles e outros “intelectuais” de esquerda, com a poderosa ajuda de seus
amigos na “midia”, espalharam, com grande sucesso, que os dirigentes dos
regimes socialistas deturparam Marx. Que pena! Curioso é que não se
perguntam como é possível que tantos milhares de companheiros tão
idealistas não tenham entendido a ideologia que seguiram com uma fé de
causar inveja às mais radicais seitas religiosas.
Vejamos o caso
da Revolução Russa. Por dezenas de anos ela estabeleceu o terror sobre
seus cidadãos. Entretanto, até a denúncia de Kruschev sobre os crimes de
Stalin, marxistas do mundo inteiro ainda vendiam a ideia que o regime
lá implantado era superior às democracias do Ocidente. A cegueira era
tão grande que os militantes que deram origem ao PCdoB, julgando que os
ideais revolucionários estavam sendo traídos em Moscou aderiram com
entusiasmo ao marxismo maoísta. E depois à Albania!…
Quando não
havia mais desculpas possíveis nasceu a cantilena que citamos acima: “O
socialismo real não era marxista”. E para não ficarem marcados pelos
massacres realizados contra tantos povos criaram outros chavões: “A
Revolução russa teria sido diferente se Lenin tivesse vivido mais alguns
anos ou se Trotsky tivesse sido vitorioso na sua disputa pelo poder
contra Stalin.
Será verdade?
Será verdade?
Nem um pouco. A história nos
mostra que a violência institucionalizada está na gênese revolucionária
socialista já nos escritos de Marx (1). Na verdade o ideal da violência
já havia intoxicado os jacobinos da Revolução Francesa e, no século XIX,
cativou intelectuais marxistas e anarquistas. A psicologia desses
revolucionários é bem descrita pelo historiador de Harvard, Richard
Pipes em História Concisa da Revolução Russa (2):
A filosofia dos intelectuais revolucionários
“São os intelectuais radicais que transformam as demandas imediatas em uma força destrutiva que tudo consome. Eles não desejam reformas, mas a obliteração completa do presente, para criar uma ordem inédita, fundamentada numa mítica Idade Dourada. Originários em sua maioria da classe média, os revolucionários profissionais consideram-se os únicos a expressar os verdadeiros interesses das “massas”, “Em 1879, cerca de trinta intelectuais – em uma nação de cem milhões – nomearam-se “Vontade do Povo” formando uma organização terrorista clandestina com a intenção declarada de assassinar Alexandre II) cujas modestas reivindicações eles desprezam. Pela insistência que nada pode ser mudado para melhor a menos que tudo seja mudado, convertem as revoltas populares em revoluções. Essa filosofia, mistura complicada de idealismo e luxúria pelo poder, abre as portas a um conflito permanente. E uma vez que a sobrevivência das pessoas comuns vincula-se a um ambiente estável e previsível todas as revoluções pós 1789 têm terminado em desastre.” (p.14)
Logo depois – ao mencionar o fim do socialismo real soviético – Pipes acrescenta:
“Para o autor destas linhas, que estudou o assunto durante a maior parte de sua vida, a Revolução Russa descortina uma tragédia, cujas cenas se sucedem inexoravelmente a partir da mentalidade e do caráter de seus protagonistas. Alguns podem sentir-se reconfortados, imaginando-a como resultado de grandes forças econômicas e sociais “inevitáveis” . Mas as condições “objetivas” não agem. São apenas uma abstração que dá origem às decisões subjetivas tomadas por relativamente poucos homens ativos na política e na guerra.” (p.15)
“Para o autor destas linhas, que estudou o assunto durante a maior parte de sua vida, a Revolução Russa descortina uma tragédia, cujas cenas se sucedem inexoravelmente a partir da mentalidade e do caráter de seus protagonistas. Alguns podem sentir-se reconfortados, imaginando-a como resultado de grandes forças econômicas e sociais “inevitáveis” . Mas as condições “objetivas” não agem. São apenas uma abstração que dá origem às decisões subjetivas tomadas por relativamente poucos homens ativos na política e na guerra.” (p.15)
A mentalidade de Lenin
“Em contato frequente com ele (Lenin), ao longo da última década do século passado Struve recorda que seu estado de espírito predominante (…) era o ódio. (…) Ele odiava não somente a autocracia existente (O Czar) e a burocracia, não apenas a autoridade policial, ilegal e arbitrária, mas seus antípodas – os ”liberais” e a “burguesia”. Seu rancor tinha algo de repulsivo e terrível; enraizado em emoções repugnâncias concretas, animais, era abstrato e frio, ao mesmo tempo, como Lenin inteiro”. (op.cit. 117) (…)
“Ele conhecia apenas duas
categorias de homens – amigo e inimigo – os que o seguiam e o resto. Em
1904, muito antes de juntar-se a Lenin, Trotsky comparou-o a
Robespierre, que só reconhecia “dois partidos – o dos bons e o dos maus
cidadãos”. Essa tradução do contraste, ou diferença normal entre
“eu/nós-vocês/eles” para o dualismo irreconciliável de “amigo-inimigo”,
acarretou duas importantes consequências históricas”.
Em seguida
Pipes comenta sobre a “incapacidade total (de Lenin) de transigir, a não
ser por alguma razão tática. No poder, suas atitudes e a de seus
companheiros impregnaram todo o regime. Em segundo lugar, provocou uma
total inabilidade, ou intolerância diante de pontos de vista contrários.
Enxergando em qualquer grupo ou indivíduo que não fosse membro de seu
partido ipso facto uma ameaça, tornava-se imperiosa a sua eliminação.
Dizer que Lenin não aceitava críticas parece pouco: ele simplesmente não
as ouvia. Como dizia um escritor francês, um século antes, pertencia
àquela categoria de homens que sabem tudo, exceto o que se fala deles.
Com ele só havia duas opções: concordância ou luta. Tais são as sementes
de uma mentalidade totalitária.” (p. 118)
Infelizmente para os
russos as sementes germinaram, cresceram, reproduziram-se. Seus frutos,
como veremos, foram ódio e injustiça, despotismo e massacres. Contra
tudo e contra todos. Até contra os primeiros companheiros de Revolução.
(3)
NOTAS:
1. Nessa linha vale a pena ler os anexos do livro “Marxismo, de André Piettre, Zahar, RJ, 3ª edição, 1969, de onde retiramos o seguinte trecho do Manifesto Comunista de 1848:
…”os comunistas desdenham a dissimulação de suas ideias e projetos. Declaram abertamente que não podem atingir seus objetivos senão com a destruição, pela violência, da antiga ordem social. Que as classes dirigentes tremam à idéia de uma revolução comunista! Os operários nada têm a perder, exceto suas cadeias. Têm todo um mundo a ganhar”
2. Pippes, Richard. História Concisa da Revolução Russa. Tradução de T. Reis – rio de Janeiro: BestBolso, 2008.
3. Em debate com Guillon, por ocasião do bicentenário da Revolução Francesa, o historiador François Furet defendeu a tese que a Revolução era necessariamente ditatorial e violenta. Na Russia a tragédia foi repetida. Stalin não teve pejo em eliminar antigos companheiros de Revolução nos famosos expurgos dos anos 30.
_____________________________
Na parte II do artigo, veremos como Lenin utilizou o terror durante seu governo.
* * Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo,
pós-graduado em Estudos Brasileiros pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie, especialista em Ciência Política pela Escola de Sociologia e
Política de São Paulo, graduado em História pela UNIFAI. Professor
Assistente III na Universidade Presbiteriana Mackenzie de 1987 a 2007.
Atualmente, leciona na FACCAMP, onde atua como professor de História
Moderna, História Contemporânea e Cultura Brasileira e no Seminário
Maria Mater Ecclesiae do Brasil, em Itapecerica da Serra como professor
de História, Geo-Política e História da Igreja.
É Presidente da Oliver Empreendimentos Educacionais, SP.
http://olivereduc.com
É Presidente da Oliver Empreendimentos Educacionais, SP.
http://olivereduc.com
MARXISMO E VIOLÊNCIA II
Stalin: “Muitos morreram, não por seus crimes, mas porque era necessário”
No
artigo anterior (Marxismo e violência I) mostramos como a ideologia
marxista sempre foi defensora da violência. Dissemos também que certos
marxistas de hoje afirmam-se contra o stalinismo e dizem que teria sido
possível um regime comunista mais humano caso Lenin tivesse vivido mais
tempo ou se Trotsky não tivesse sido afastado e depois morto por ordem
de Stalin. Afirmamos que tal postura é mera falácia. Lenin e Trotsky
também foram brutais em suas idéias e ações.
Lembremos inicialmente que a concepção leninista de revolução e socialismo nunca foi democrática. “Para o seu próprio bem, escreve Richard Pipes (1), o proletariado deveria aceitar a liderança de uma minoria messiânica”:
“Nenhuma
classe na história logrou estabelecer seu domínio a menos que tenha
produzido políticos capazes de organizar o movimento e conduzi-lo
(…). É necessário preparar homens que dediquem à revolução não apenas
algumas tardes livres, mas suas vidas inteiras”. (2) (op.cit, p. 120).
Nessa lógica, mostra ainda Pipes, “de
acordo com a premissa de Lenin, a “intelligentsia” socialista tinha de
assumir a liderança da causa. Isso será feito pelo partido comunista.
Partido que, “antes e depois da tomada do poder, agia em nome dos
trabalhadores, sem sua autorização” (op cit. p. 121)
Com a vitória da Revolução em outubro de
1917 a chamada democracia soviética vai desaparecer dentro do chamado
movimento revolucionário vitorioso, que englobava várias correntes da
esquerda. Na reunião do Comitê Executivo Central em 4 de novembro de
1918, os aliados de esquerda “solicitaram que o governo parasse
imediatamente de legislar por decreto. Lênin afirmou que tal proposição
não passava de”formalismo burguês”. Trotsky lhe fez eco (…)” (op. cit.
169). Foi aí que graças a uma proposta bolchevista manipulada pelos dois
líderes o Conselho outorgou “aos dois líderes bolcheviques autoridade legislativa total”. (op. cit. p. 170).
Com o tempo a minoria governante teve cada vez mais o campo aberto para o terror. “Terror
não significava somente execuções sumárias, mas uma atmosfera
permanente de ilegalidade na qual a minoria governante detinha todos os
direitos, ao passo que a maioria governada, nenhum: ao cidadão comum
restava a impotência”. (op. cit. p. 237).
Quando Lenin apresentou o decreto “a
pátria socialista em perigo” – que estabelecia o terror para combater os
delitos considerados “ação contra-revolucionária”, foi procurado pelo
camarada Isaac Steinberg:
“Objetei que essa cruel ameaça matava todo o espírito do manifesto. Lenin retrucou com escárnio: “Ao contrário, o decreto encerra o verdadeiro espírito revolucionário. Você realmente acredita que possamos vencer renunciando à crueldade do terror vermelho?” Foi
difícil argumentar contra ele a esse respeito, e logo chegamos a um
impasse. O que estava em discussão era uma medida política rigorosa, que
a longo prazo poderia converter-se no terror. Lenin ofendeu-se com
minha oposição em nome da justiça revolucionária. Então, gritei
exasperado: Por que nos importamos com um Comissariado de Justiça? Vamos
chamá-lo de Comissariado para o Extermínio Social e pronto!”. Com o rosto subitamente iluminado ele respondeu: “Bem posto… é isso, exatamente… mas não podemos falar assim” (p.239).(3)
Não vamos descrever aqui as várias
formas de barbárie estabelecidas por Lenin, Trotsky e os bolchevistas em
geral. São absolutamente semelhantes ao que são praticados pelos
partidários do Estado Islâmico contra todos aqueles que não os apoiam. A
barbárie humana não se limitou aos horrores totalitários do século XX.
Poucos anos depois, principalmente a
partir dos anos 30, Trotsky e um enorme número de antigos líderes da
Revolução de 1917 irão sentir se abater sobre eles toda a loucura do
terror que eles mesmos desencadearam. Serão eliminados pelo bem da
causa. Alguns ainda louvando Stalin…
A Revolução devora seus próprios filhos.
Notas:
1. PIPES, Richard, História Concisa da Revolução Russa, tradução de T. Reis, Rio de Janeiro, BestBolso, 2008.
2. No Brasil há uma infinidade deles nos
Movimentos Sociais Revolucionários. Mantidos com verbas do Estado, do
dinheiro proveniente da corrupção e até pelo financiamento da oligarquia
revolucionária.
3. Na verdade Lenin seguia
tranquilamente a chamada ética marxista; Para esta, ético é o que ajuda a
causa revolucionária. Antiético é o que a prejudica. Nessa perspectiva a
mentira, o ódio, o crime, nunca são maus em si mesmos.
Muitos que votaram ou votam no PT ou
partidos mais à esquerda dele (PSol, PSTU, PCB, PCdoB, etc) o fazem sem
saber o que é a “ética revolucionária marxista”. Lamentavelmente.
- See more at: http://olivereduc.com/etica/marxismo-e-violencia-ii/#sthash.pX2JNGS4.dpuf
No artigo
anterior (Marxismo e violência I) mostramos como a ideologia marxista sempre
foi defensora da violência. Dissemos também que certos marxistas de hoje
afirmam-se contra o stalinismo e dizem que teria sido possível um regime
comunista mais humano caso Lenin tivesse vivido mais tempo ou se Trotsky não
tivesse sido afastado e depois morto por ordem de Stalin. Afirmamos que tal
postura é mera falácia. Lenin e Trotsky também foram brutais em suas idéias e
ações.
Lembremos
inicialmente que a concepção leninista de revolução e socialismo nunca foi
democrática. “Para o seu próprio bem, escreve Richard Pipes (1), o proletariado deveria aceitar a liderança de uma minoria
messiânica”:
“Nenhuma classe na história logrou estabelecer seu
domínio a menos que tenha produzido políticos capazes de organizar
o movimento e conduzi-lo (…). É necessário preparar homens que
dediquem à revolução não apenas algumas tardes livres, mas suas vidas inteiras”.
(2) (op.cit, p. 120).
Nessa
lógica, mostra ainda Pipes, “de acordo com a
premissa de Lenin, a “intelligentsia” socialista tinha de assumir a liderança
da causa. Isso será feito pelo partido comunista. Partido que, “antes e depois
da tomada do poder, agia em nome dos trabalhadores, sem sua autorização” (op cit. p. 121)
Com a
vitória da Revolução em outubro de 1917 a chamada democracia soviética vai
desaparecer dentro do chamado movimento revolucionário vitorioso, que englobava
várias correntes da esquerda. Na reunião do Comitê Executivo Central em 4 de
novembro de 1918, os aliados de esquerda “solicitaram que o governo parasse
imediatamente de legislar por decreto. Lênin afirmou que tal proposição não
passava de”formalismo burguês”. Trotsky lhe fez eco (…)” (op. cit. 169). Foi aí
que graças a uma proposta bolchevista manipulada pelos dois líderes o Conselho
outorgou “aos dois líderes bolcheviques autoridade legislativa total”.
(op. cit. p. 170).
Com o
tempo a minoria governante teve cada vez mais o campo aberto para o terror. “Terror não significava somente execuções sumárias, mas uma
atmosfera permanente de ilegalidade na qual a minoria governante detinha todos
os direitos, ao passo que a maioria governada, nenhum: ao cidadão comum restava
a impotência”. (op. cit. p. 237).
Stalin: “Muitos morreram, não por seus crimes,
mas porque era necessário”
Quando
Lenin apresentou o decreto “a pátria socialista em perigo” – que
estabelecia o terror para combater os delitos considerados “ação
contra-revolucionária”, foi procurado pelo camarada Isaac Steinberg:
“Objetei
que essa cruel ameaça matava todo o espírito do manifesto. Lenin retrucou com
escárnio: “Ao contrário, o decreto encerra o verdadeiro espírito
revolucionário. Você realmente acredita que possamos vencer
renunciando à crueldade do terror vermelho?” Foi difícil argumentar
contra ele a esse respeito, e logo chegamos a um impasse. O que estava em
discussão era uma medida política rigorosa, que a longo prazo poderia
converter-se no terror. Lenin ofendeu-se com minha oposição em nome da
justiça revolucionária. Então, gritei exasperado: Por que nos importamos com um
Comissariado de Justiça? Vamos chamá-lo de Comissariado para o Extermínio
Social e pronto!”. Com o rosto subitamente iluminado ele respondeu: “Bem
posto… é isso, exatamente… mas não podemos falar assim” (p.239).(3)
Não vamos
descrever aqui as várias formas de barbárie estabelecidas por Lenin, Trotsky e
os bolchevistas em geral. São absolutamente semelhantes ao que são praticados
pelos partidários do Estado Islâmico contra todos aqueles que não os apoiam. A
barbárie humana não se limitou aos horrores totalitários do século XX.
Poucos
anos depois, principalmente a partir dos anos 30, Trotsky e um enorme número de
antigos líderes da Revolução de 1917 irão sentir se abater sobre eles toda a
loucura do terror que eles mesmos desencadearam. Serão eliminados pelo bem da
causa. Alguns ainda louvando Stalin…
A
Revolução devora seus próprios filhos.
Notas:
1. PIPES,
Richard, História Concisa da Revolução Russa, tradução de T. Reis, Rio
de Janeiro, BestBolso, 2008.
2. No
Brasil há uma infinidade deles nos Movimentos Sociais Revolucionários. Mantidos
com verbas do Estado, do dinheiro proveniente da corrupção e até pelo
financiamento da oligarquia revolucionária.
3. Na
verdade Lenin seguia tranquilamente a chamada ética marxista; Para esta, ético
é o que ajuda a causa revolucionária. Antiético é o que a prejudica. Nessa
perspectiva a mentira, o ódio, o crime, nunca são maus em si mesmos.
Muitos
que votaram ou votam no PT ou partidos mais à esquerda dele (PSol, PSTU, PCB,
PCdoB, etc) o fazem sem saber o que é a “ética revolucionária marxista”.
Lamentavelmente.
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No
artigo anterior (Marxismo e violência I) mostramos como a ideologia
marxista sempre foi defensora da violência. Dissemos também que certos
marxistas de hoje afirmam-se contra o stalinismo e dizem que teria sido
possível um regime comunista mais humano caso Lenin tivesse vivido mais
tempo ou se Trotsky não tivesse sido afastado e depois morto por ordem
de Stalin. Afirmamos que tal postura é mera falácia. Lenin e Trotsky
também foram brutais em suas idéias e ações.
Lembremos inicialmente que a concepção leninista de revolução e socialismo nunca foi democrática. “Para o seu próprio bem, escreve Richard Pipes (1), o proletariado deveria aceitar a liderança de uma minoria messiânica”:
“Nenhuma
classe na história logrou estabelecer seu domínio a menos que tenha
produzido políticos capazes de organizar o movimento e conduzi-lo
(…). É necessário preparar homens que dediquem à revolução não apenas
algumas tardes livres, mas suas vidas inteiras”. (2) (op.cit, p. 120).
Nessa lógica, mostra ainda Pipes, “de
acordo com a premissa de Lenin, a “intelligentsia” socialista tinha de
assumir a liderança da causa. Isso será feito pelo partido comunista.
Partido que, “antes e depois da tomada do poder, agia em nome dos
trabalhadores, sem sua autorização” (op cit. p. 121)
Com a vitória da Revolução em outubro de
1917 a chamada democracia soviética vai desaparecer dentro do chamado
movimento revolucionário vitorioso, que englobava várias correntes da
esquerda. Na reunião do Comitê Executivo Central em 4 de novembro de
1918, os aliados de esquerda “solicitaram que o governo parasse
imediatamente de legislar por decreto. Lênin afirmou que tal proposição
não passava de”formalismo burguês”. Trotsky lhe fez eco (…)” (op. cit.
169). Foi aí que graças a uma proposta bolchevista manipulada pelos dois
líderes o Conselho outorgou “aos dois líderes bolcheviques autoridade legislativa total”. (op. cit. p. 170).
Com o tempo a minoria governante teve cada vez mais o campo aberto para o terror. “Terror
não significava somente execuções sumárias, mas uma atmosfera
permanente de ilegalidade na qual a minoria governante detinha todos os
direitos, ao passo que a maioria governada, nenhum: ao cidadão comum
restava a impotência”. (op. cit. p. 237).
Quando Lenin apresentou o decreto “a
pátria socialista em perigo” – que estabelecia o terror para combater os
delitos considerados “ação contra-revolucionária”, foi procurado pelo
camarada Isaac Steinberg:
“Objetei que essa cruel ameaça matava todo o espírito do manifesto. Lenin retrucou com escárnio: “Ao contrário, o decreto encerra o verdadeiro espírito revolucionário. Você realmente acredita que possamos vencer renunciando à crueldade do terror vermelho?” Foi
difícil argumentar contra ele a esse respeito, e logo chegamos a um
impasse. O que estava em discussão era uma medida política rigorosa, que
a longo prazo poderia converter-se no terror. Lenin ofendeu-se com
minha oposição em nome da justiça revolucionária. Então, gritei
exasperado: Por que nos importamos com um Comissariado de Justiça? Vamos
chamá-lo de Comissariado para o Extermínio Social e pronto!”. Com o rosto subitamente iluminado ele respondeu: “Bem posto… é isso, exatamente… mas não podemos falar assim” (p.239).(3)
Não vamos descrever aqui as várias
formas de barbárie estabelecidas por Lenin, Trotsky e os bolchevistas em
geral. São absolutamente semelhantes ao que são praticados pelos
partidários do Estado Islâmico contra todos aqueles que não os apoiam. A
barbárie humana não se limitou aos horrores totalitários do século XX.
Poucos anos depois, principalmente a
partir dos anos 30, Trotsky e um enorme número de antigos líderes da
Revolução de 1917 irão sentir se abater sobre eles toda a loucura do
terror que eles mesmos desencadearam. Serão eliminados pelo bem da
causa. Alguns ainda louvando Stalin…
A Revolução devora seus próprios filhos.
Notas:
1. PIPES, Richard, História Concisa da Revolução Russa, tradução de T. Reis, Rio de Janeiro, BestBolso, 2008.
2. No Brasil há uma infinidade deles nos
Movimentos Sociais Revolucionários. Mantidos com verbas do Estado, do
dinheiro proveniente da corrupção e até pelo financiamento da oligarquia
revolucionária.
3. Na verdade Lenin seguia
tranquilamente a chamada ética marxista; Para esta, ético é o que ajuda a
causa revolucionária. Antiético é o que a prejudica. Nessa perspectiva a
mentira, o ódio, o crime, nunca são maus em si mesmos.
Muitos que votaram ou votam no PT ou
partidos mais à esquerda dele (PSol, PSTU, PCB, PCdoB, etc) o fazem sem
saber o que é a “ética revolucionária marxista”. Lamentavelmente.
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No
artigo anterior (Marxismo e violência I) mostramos como a ideologia
marxista sempre foi defensora da violência. Dissemos também que certos
marxistas de hoje afirmam-se contra o stalinismo e dizem que teria sido
possível um regime comunista mais humano caso Lenin tivesse vivido mais
tempo ou se Trotsky não tivesse sido afastado e depois morto por ordem
de Stalin. Afirmamos que tal postura é mera falácia. Lenin e Trotsky
também foram brutais em suas idéias e ações.
Lembremos inicialmente que a concepção leninista de revolução e socialismo nunca foi democrática. “Para o seu próprio bem, escreve Richard Pipes (1), o proletariado deveria aceitar a liderança de uma minoria messiânica”:
“Nenhuma
classe na história logrou estabelecer seu domínio a menos que tenha
produzido políticos capazes de organizar o movimento e conduzi-lo
(…). É necessário preparar homens que dediquem à revolução não apenas
algumas tardes livres, mas suas vidas inteiras”. (2) (op.cit, p. 120).
Nessa lógica, mostra ainda Pipes, “de
acordo com a premissa de Lenin, a “intelligentsia” socialista tinha de
assumir a liderança da causa. Isso será feito pelo partido comunista.
Partido que, “antes e depois da tomada do poder, agia em nome dos
trabalhadores, sem sua autorização” (op cit. p. 121)
Com a vitória da Revolução em outubro de
1917 a chamada democracia soviética vai desaparecer dentro do chamado
movimento revolucionário vitorioso, que englobava várias correntes da
esquerda. Na reunião do Comitê Executivo Central em 4 de novembro de
1918, os aliados de esquerda “solicitaram que o governo parasse
imediatamente de legislar por decreto. Lênin afirmou que tal proposição
não passava de”formalismo burguês”. Trotsky lhe fez eco (…)” (op. cit.
169). Foi aí que graças a uma proposta bolchevista manipulada pelos dois
líderes o Conselho outorgou “aos dois líderes bolcheviques autoridade legislativa total”. (op. cit. p. 170).
Com o tempo a minoria governante teve cada vez mais o campo aberto para o terror. “Terror
não significava somente execuções sumárias, mas uma atmosfera
permanente de ilegalidade na qual a minoria governante detinha todos os
direitos, ao passo que a maioria governada, nenhum: ao cidadão comum
restava a impotência”. (op. cit. p. 237).
Quando Lenin apresentou o decreto “a
pátria socialista em perigo” – que estabelecia o terror para combater os
delitos considerados “ação contra-revolucionária”, foi procurado pelo
camarada Isaac Steinberg:
“Objetei que essa cruel ameaça matava todo o espírito do manifesto. Lenin retrucou com escárnio: “Ao contrário, o decreto encerra o verdadeiro espírito revolucionário. Você realmente acredita que possamos vencer renunciando à crueldade do terror vermelho?” Foi
difícil argumentar contra ele a esse respeito, e logo chegamos a um
impasse. O que estava em discussão era uma medida política rigorosa, que
a longo prazo poderia converter-se no terror. Lenin ofendeu-se com
minha oposição em nome da justiça revolucionária. Então, gritei
exasperado: Por que nos importamos com um Comissariado de Justiça? Vamos
chamá-lo de Comissariado para o Extermínio Social e pronto!”. Com o rosto subitamente iluminado ele respondeu: “Bem posto… é isso, exatamente… mas não podemos falar assim” (p.239).(3)
Não vamos descrever aqui as várias
formas de barbárie estabelecidas por Lenin, Trotsky e os bolchevistas em
geral. São absolutamente semelhantes ao que são praticados pelos
partidários do Estado Islâmico contra todos aqueles que não os apoiam. A
barbárie humana não se limitou aos horrores totalitários do século XX.
Poucos anos depois, principalmente a
partir dos anos 30, Trotsky e um enorme número de antigos líderes da
Revolução de 1917 irão sentir se abater sobre eles toda a loucura do
terror que eles mesmos desencadearam. Serão eliminados pelo bem da
causa. Alguns ainda louvando Stalin…
A Revolução devora seus próprios filhos.
Notas:
1. PIPES, Richard, História Concisa da Revolução Russa, tradução de T. Reis, Rio de Janeiro, BestBolso, 2008.
2. No Brasil há uma infinidade deles nos
Movimentos Sociais Revolucionários. Mantidos com verbas do Estado, do
dinheiro proveniente da corrupção e até pelo financiamento da oligarquia
revolucionária.
3. Na verdade Lenin seguia
tranquilamente a chamada ética marxista; Para esta, ético é o que ajuda a
causa revolucionária. Antiético é o que a prejudica. Nessa perspectiva a
mentira, o ódio, o crime, nunca são maus em si mesmos.
Muitos que votaram ou votam no PT ou
partidos mais à esquerda dele (PSol, PSTU, PCB, PCdoB, etc) o fazem sem
saber o que é a “ética revolucionária marxista”. Lamentavelmente.
- See more at: http://olivereduc.com/etica/marxismo-e-violencia-ii/#sthash.pX2JNGS4.dpuf
No
artigo anterior (Marxismo e violência I) mostramos como a ideologia
marxista sempre foi defensora da violência. Dissemos também que certos
marxistas de hoje afirmam-se contra o stalinismo e dizem que teria sido
possível um regime comunista mais humano caso Lenin tivesse vivido mais
tempo ou se Trotsky não tivesse sido afastado e depois morto por ordem
de Stalin. Afirmamos que tal postura é mera falácia. Lenin e Trotsky
também foram brutais em suas idéias e ações.
Lembremos inicialmente que a concepção leninista de revolução e socialismo nunca foi democrática. “Para o seu próprio bem, escreve Richard Pipes (1), o proletariado deveria aceitar a liderança de uma minoria messiânica”:
“Nenhuma
classe na história logrou estabelecer seu domínio a menos que tenha
produzido políticos capazes de organizar o movimento e conduzi-lo
(…). É necessário preparar homens que dediquem à revolução não apenas
algumas tardes livres, mas suas vidas inteiras”. (2) (op.cit, p. 120).
Nessa lógica, mostra ainda Pipes, “de
acordo com a premissa de Lenin, a “intelligentsia” socialista tinha de
assumir a liderança da causa. Isso será feito pelo partido comunista.
Partido que, “antes e depois da tomada do poder, agia em nome dos
trabalhadores, sem sua autorização” (op cit. p. 121)
Com a vitória da Revolução em outubro de
1917 a chamada democracia soviética vai desaparecer dentro do chamado
movimento revolucionário vitorioso, que englobava várias correntes da
esquerda. Na reunião do Comitê Executivo Central em 4 de novembro de
1918, os aliados de esquerda “solicitaram que o governo parasse
imediatamente de legislar por decreto. Lênin afirmou que tal proposição
não passava de”formalismo burguês”. Trotsky lhe fez eco (…)” (op. cit.
169). Foi aí que graças a uma proposta bolchevista manipulada pelos dois
líderes o Conselho outorgou “aos dois líderes bolcheviques autoridade legislativa total”. (op. cit. p. 170).
Com o tempo a minoria governante teve cada vez mais o campo aberto para o terror. “Terror
não significava somente execuções sumárias, mas uma atmosfera
permanente de ilegalidade na qual a minoria governante detinha todos os
direitos, ao passo que a maioria governada, nenhum: ao cidadão comum
restava a impotência”. (op. cit. p. 237).
Quando Lenin apresentou o decreto “a
pátria socialista em perigo” – que estabelecia o terror para combater os
delitos considerados “ação contra-revolucionária”, foi procurado pelo
camarada Isaac Steinberg:
“Objetei que essa cruel ameaça matava todo o espírito do manifesto. Lenin retrucou com escárnio: “Ao contrário, o decreto encerra o verdadeiro espírito revolucionário. Você realmente acredita que possamos vencer renunciando à crueldade do terror vermelho?” Foi
difícil argumentar contra ele a esse respeito, e logo chegamos a um
impasse. O que estava em discussão era uma medida política rigorosa, que
a longo prazo poderia converter-se no terror. Lenin ofendeu-se com
minha oposição em nome da justiça revolucionária. Então, gritei
exasperado: Por que nos importamos com um Comissariado de Justiça? Vamos
chamá-lo de Comissariado para o Extermínio Social e pronto!”. Com o rosto subitamente iluminado ele respondeu: “Bem posto… é isso, exatamente… mas não podemos falar assim” (p.239).(3)
Não vamos descrever aqui as várias
formas de barbárie estabelecidas por Lenin, Trotsky e os bolchevistas em
geral. São absolutamente semelhantes ao que são praticados pelos
partidários do Estado Islâmico contra todos aqueles que não os apoiam. A
barbárie humana não se limitou aos horrores totalitários do século XX.
Poucos anos depois, principalmente a
partir dos anos 30, Trotsky e um enorme número de antigos líderes da
Revolução de 1917 irão sentir se abater sobre eles toda a loucura do
terror que eles mesmos desencadearam. Serão eliminados pelo bem da
causa. Alguns ainda louvando Stalin…
A Revolução devora seus próprios filhos.
Notas:
1. PIPES, Richard, História Concisa da Revolução Russa, tradução de T. Reis, Rio de Janeiro, BestBolso, 2008.
2. No Brasil há uma infinidade deles nos
Movimentos Sociais Revolucionários. Mantidos com verbas do Estado, do
dinheiro proveniente da corrupção e até pelo financiamento da oligarquia
revolucionária.
3. Na verdade Lenin seguia
tranquilamente a chamada ética marxista; Para esta, ético é o que ajuda a
causa revolucionária. Antiético é o que a prejudica. Nessa perspectiva a
mentira, o ódio, o crime, nunca são maus em si mesmos.
Muitos que votaram ou votam no PT ou
partidos mais à esquerda dele (PSol, PSTU, PCB, PCdoB, etc) o fazem sem
saber o que é a “ética revolucionária marxista”. Lamentavelmente.
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