por Leonardo Faccioni
O próximo presidente brasileiro, ao receber a faixa, herdará uma
bomba relógio; ao subir a rampa planaltina, entrará em um mausoléu de
reputações.
Doze anos de petismo balcanizaram o Brasil. Há cheiro
de pólvora no ar em todas as direções. Uma faísca basta para que tudo
vá pelos ares: é a percepção de “violência difusa”, sobre a qual tanto
se sente e pouco se fala.
Os agentes do partido governante
disseminaram, de parte a parte, um desejo de revolta paralelo ao de
Lúcifer: ensinaram por onde andaram que a miséria de um é a culpa de
outro; que tudo o que o morro não possui lhe foi deliberadamente negado
pela malícia do asfalto; que, se índios nômades aculturados tomassem
para si as terras há cem anos cultivadas por milhares de famílias
imigrantes, haveria justiça; que a pobreza, em um país desde sempre
conhecido pela inviabilidade total de um corte étnico preciso, era
questão de raça e de preconceitos burgueses.
O PT sepultou a
concepção tradicional de educação, que buscava retirar o indivíduo de
seu meio para apresentá-lo à vastidão do pensamento universal. Ao
contrário, a pedagogia freireana encampada pelo partido, ao invés de
elevar, rebaixa. Torna o aluno incapaz sequer de suspeitar que um objeto
possa ser examinado por mais de uma dimensão, ou que a gôndola do
supermercado onde brota seu arroz deva sua existência a uma cadeia
incomensurável de agentes — da produção, sim, mas também do pensamento —
aos quais debitar gratidão. A educação petista produz, em série,
imbecis imediatistas. Zumbis de uma cultura de ódio e devassidão,
prontos a tomar pela força tudo aquilo a que imaginam ter direito. Não
importa, para tanto, a quem precisem atropelar.
Por sua vez, o
modelo econômico desenvolvimentista dá claros sinais de esgotamento.
Precisará de ajustes dolorosos. A falência do sistema energético, com
surreais anúncios de reajuste tarifário para após as eleições, é
prenúncio do que está por vir; ponta do iceberg. Os investidores o
sabem, e a Bolsa dá mostras. Quando a inflação consumir sozinha o
mensalinho do Bolsa Família, essa geração berçada sob a cultura da
“música de contestação”, do “rap reivindicação”, do “fazer valer os seus
direitos” não os buscará contra a autoridade política, mas contra a
sociedade, cujo representante arquetípico é quem quer que se encontre
pela rua em seu caminho. Haverá choro, ranger de dentes, fogo e balas
insuficientes.
Não se enganem, porém. A situação não se armou a
si mesma. Teve seus arquitetos, como teve seus executores. Desejaram e
desejam ainda o desfecho ora quase inevitável para esta que é a crônica
de um desastre anunciado. Pensam que, estilhaçando a nação, poderão
reconstruí-la à sua imagem e semelhança, e que todo preço a pagar por
tão glorioso projeto seja pequeno. Passa a hora de nomeá-los e chamá-los
a responder por seus atos de lesa-pátria.
www.leonardofaccioni.org
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