Escrito por Ives Gandra Martins*
Ayn Rand (1905-1982) foi uma filósofa, socióloga e romancista com
aguda percepção das mudanças que ocorreram na comunidade internacional,
principalmente à luz do choque entre o sucesso do empreendedorismo
privado e o fracasso da estatização populista dos meios de produção, na
maior parte dos países de ideologia marxista. Seu romance A Revolta de
Atlas, escrito há mais de 50 anos, talvez seja o que melhor retrata a
mediocridade da corrente de assunção do poder por despreparados cidadãos
que têm um projeto para conquistá-lo e mantê-lo com slogans contra as
elites em "defesa do povo", o que implica a destruição sistemática, por
incompetência e inveja, dos que têm condições de promover o
desenvolvimento.
No romance, os medíocres ameaçam o governo dos
Estados Unidos e começam a controlar e assumir os empreendimentos que
davam certo, sob a alegação de que os empreendedores queriam o lucro, e
não o bem da sociedade. Tal política tem como resultado a gradual perda
de competitividade dos americanos, o estouro das finanças, a eliminação
das iniciativas bem-sucedidas e a fuga dos grandes investidores e
empresários, que são perseguidos, grande parte deles desistindo de
administrar suas empresas, com o que os governantes se tornam ditadores e
o povo passa a ter os serviços públicos e privados deteriorados.
Não contarei mais do romance, pois o símbolo mitológico de Atlas, que
sustenta o globo, é lembrado na revolta dos verdadeiros geradores do
progresso da Nação.
O que de semelhante vejo na mediocridade
reinante no governo federal do Brasil, loteado em 39 ministérios e 22
mil amigos do rei não concursados, vivendo regiamente à custa da Nação,
sob o comando da presidente da República, é a destruição sistemática
que, nos últimos anos, ocorreu com a indústria brasileira, abalada em
seu poder de competitividade por um Estado mastodôntico, que sufoca a
Nação com alta inflação, elevada carga tributária, saldo desprezível na
balança comercial, superávit primário ridículo e maquiado, rebaixamento
do nível de investimento exterior, desvio em aplicações de capitais que
deixam de ser colocados no País para serem destinados a outras nações
emergentes, perda de qualidade no ensino universitário e na assistência
social.
Por outro lado, os programas populistas, que custam muito
pouco, mas não incentivam a luta por crescimento individual, como o
Bolsa Família (em torno de 3% do Orçamento federal), mascaram o fracasso
da política econômica.
O próprio desemprego, alardeado como grande conquista - leia-se subemprego -, começa a ruir por força da queda ano após ano do produto interno bruto (PIB), que cresce pouco e cada vez menos, e muito menos que o de todos os países emergentes de expressão.
O próprio desemprego, alardeado como grande conquista - leia-se subemprego -, começa a ruir por força da queda ano após ano do produto interno bruto (PIB), que cresce pouco e cada vez menos, e muito menos que o de todos os países emergentes de expressão.
É que o projeto populista de governo, que o leva a manter um falido
Mercosul com parceiros arruinados, como Venezuela e Argentina, sobre
sustentar Cuba e Bolívia, enviando recursos que seriam mais bem
aplicados no Brasil, fechou portas para o País celebrar acordos
bilaterais com outras nações. Prisioneiro que é do Mercosul, são poucos
os acordos que mantemos. Tal modelo se esgotou e, desorientados, os
partidários de um novo mandato não sabem o que dizem e o que devem
fazer.
Basta dizer que o "ex-ministro da Fazenda em exercício"
declarou, neste mês de eleição, que em 2015 continuará com a mesma
política econômica, que se revelou, no curso destes últimos anos, um dos
mais fantástico fracassos da História brasileira. Parece que caminhamos
para uma estrada semelhante à trilhada por Argentina e Venezuela.
No romance de Ayn Rand, quando os verdadeiros empreendedores, que
tinham feito a nação crescer e a viam definhando, decidiram reagir,
denominaram os detentores do poder, nos Estados Unidos imaginário da
romancista, de "os saqueadores". Estes, anulando as conquistas e os
avanços dos que fizeram a nação crescer para se enquistarem no poder,
por força da corrupção endêmica, da incompetência, de preconceitos e do
populismo, levaram o país à ruína.
À evidência, não estou alcunhando os 39 ministérios e os 22 mil não concursados de integrantes de um grupo de "saqueadores", como o fez Ayn Rand. Há, todavia, na máquina burocrática brasileira - com excesso de regulamentação inibidora de investimentos, assim como de desestímulo ao empreendedorismo, e escassez de vontade em simplificar as normas que permitem o empreendedorismo, apesar do esforço heroico e isolado de Guilherme Afif Domingos, uma gota no oceano -, algo de muito semelhante entre o descrito em seu romance há mais de 50 anos e o Brasil atual. Basta olhar o "mar de lama" da corrupção numa única empresa (Petrobras).
À evidência, não estou alcunhando os 39 ministérios e os 22 mil não concursados de integrantes de um grupo de "saqueadores", como o fez Ayn Rand. Há, todavia, na máquina burocrática brasileira - com excesso de regulamentação inibidora de investimentos, assim como de desestímulo ao empreendedorismo, e escassez de vontade em simplificar as normas que permitem o empreendedorismo, apesar do esforço heroico e isolado de Guilherme Afif Domingos, uma gota no oceano -, algo de muito semelhante entre o descrito em seu romance há mais de 50 anos e o Brasil atual. Basta olhar o "mar de lama" da corrupção numa única empresa (Petrobras).
O que mais impressiona,
todavia, é que, detectada a ampla corrupção na empresa - são bilhões e
bilhões de dólares -, o governo tudo faça para congelar a CPI e não
desventrar para o público as entranhas dos mecanismos deletérios e
corrosivos que permitiram tanto desvio de dinheiro público e privado. O
simples fato de não querer apurar a fundo, de desviar a atenção desse
terrível assalto à maior empresa pública privada, procurando dar-lhe
diminuta atenção, como se o governo nada tivesse de responsabilidade,
torna suspeita a gestão, pelo menos na denominada culpa in vigilando.
Precisamos apenas saber se o eleitor brasileiro está consciente de que,
se não houver mudança de rumos, o Brasil de país do futuro, como
escreveu Stefan Zweig, se tornará, cada vez mais, o país do passado,
vendo o desfile das outras nações passando-lhe à frente, por se terem
adaptado às mudanças de uma sociedade cada vez mais complexa e
competitiva, em que apenas os países que se prepararem terão chances.
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