O Papai Noel do Consumismo

Chegou Natal, época em que o comércio comemora o 13º salário dos sofridos trabalhadores. A mídia enfatiza a ida às compras como se fosse obrigatória nessa época do ano, e muita gente, por pressão, se sentem compelidas a tal. Começam os “amigos secretos” das turmas que passaram o ano inteiro cheias de picuinhas, o auge da hipocrisia. O monstro rubro do Papai Noel entra pela chaminé – quem, por mil diabos, costuma vê chaminé por essas bandas? Nem fogão a lenha se tem mais, mesmo aqui no Nordeste queimamos gás metano à vontade. Neve? Só se for de areia nessa época de ventos. As vitrines estão cheias de neve de isopó ou algodão, pois frio aqui nessas bandas nem dentro do congelador. Eu não entendo por que o tal do Papai Noel tem que vestir vermelho (não poderia ser verde, azul, amarelo?). Seria alusão à coca-cola ou à bandeira americana? Outro dia o repórter perguntava a uma criancinha: você acredita em Papai Noel? Ela disse que sim. Claro, a pobre coitada nasceu ouvindo dizer que na véspera da noite de natal deve deixa a meia na janela. Tem brasileiro que acha um crime dizer para uma criança que o sacana do Papai Noel não passa de um colossal jogo comercial para fisgar o dinheirinho sofrido do trabalhador. Mais é. Papai Noel não existe. É a ridícula farsa comercial que escraviza o rico e o pobre no jogo sujo do capitalismo selvagem.
Pinho. Pinheiros. Árvores de natal em forma de pinheiro, isso faz mesmo parte de nossa flora? Pinheiros recheados de neve. A coisa mais escrota que eu vejo nas vitrines são árvores de natal cheia de neve. Não sei se importamos ou fomos novamente colonizados por uma cultura maluca que nada tem a ver com nosso mandacaru quando fulora na seca.
Ainda usam o nome do Santo Cristo. “Então é natal, a festa cristã”. O cristianismo está longe desse movimento consumista, dessa hipocrisia escancarada. Nem Deus escapa da falta de vergonha do comércio. Depois de nos encherem de propaganda exaltando o consumismo desenfreado, ainda me vem o safado do Noel dando uma risada sarcástica como se dissesse: oh, oh, oh, mais um otário caiu na minha teia. Bom velhinho uma ova.
Ninguém mais sabe qual é o significado do natal além do panetone, enfeites, presentes, avenida 25 de março (SP). A celebração da ceia? Se não tiver pirú, vinho, panetone, mesa farta, presentes caros, não é natal. A ditaduro desavergonhada desse sistema escravizador das consciências já estabeleceu que natal é isso ai: consumo, vaidade, egoísmo. Neste Natal não há espaço para o Cristo da manjedora, da humildade e da paz.
Ta escrito na Bíblia que o diabo é o pai da mentira. Papai Noel é a mentira mais sem vergonha que eu já vi. Logo esse tal de Noel, que vem lá do Polo Norte, é filho do diabo. Seu objetivo não é outro senão escravizar a humanidade nas garras do consumismo, do materialismo, do imediatismo, da falta de limites, do endividamento entre tantas outras chagas malígnas. Ele vem transvestido de bom velhinho, pegando criancinhas no colo, com cara de inofensivo. No fundo ele é o estígma maldito de um povo subjugado pelo amor ao ter em detrimento do ser.

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