A Falsa Paz no Rio de Janeiro

"Este é um dia histórico para o Rio de Janeiro" foi essa a frase proferida várias vezes no telejornalismo brasileiro. Mas de que dia histórico esta se falando? Por ventura não foi o dia em que o Estado, por força de pressões internacionais para realização da Copa, decidiu exterminar legitimamente os meliantes do Rio? Senão vejamos.
A criminalidade organizada nos morros do Rio remonta de mais de cinco décadas. O crime vem se fortalecendo nas fuças do Estado enquanto este vem negando, nas favelas de todo o Brasil, o mínimo para se garantir acesso aos bens e serviços públicos promotores da Dignidade Humana. Por acaso queria o Estado que se formasse nas favelas uma nação de pessoas felizes e políticamente corretas a despeito da negação da descência mínima que não lhes assiste?
Não, não há o que se comemorar. Definitivamente não é a libertação carioca que está sendo defendida. Não é o interesse público que motiva o Estado neste momento. Pois se houvesse interesse público a criminalidade jamais teria chegado às raias da loucura como chegou. Outra maluquisse é pensar que numa ação relâmpago vai se resolver problemas que se enraizam há décadas.
Onde estão a garantia dos Direitos Sociais dos cidadãos? Onde está a isonomia, a igualdade, nos morros cariocas? Enquanto houver desigualdade econômica haverá crime. E o papel do Estado é colocar o exército nas ruas? Não vislumbro justificativa plausível. O que consigo ver nesse emaranhado de guerra é uma segregação disfarçada, pois lá nos morros ficarão confinados seus moradores com todas as suas necessidades sociais e seus direitos negados. Mas o exército estará lá garantindo a paz e a segurança. Garantindo a segurança, não dos moradores, mas dos visitantes da Copa e das Olimpíadas.
Outro dia Arnaldo Jabor disse em um de seus comentários no Jornal da Globo: "... a verdade é que estávamos com medo dos moradores das favelas, a violência do tráfico nos fez odiar a pobreza, como se fossem aliados do crime..." ora, Arnaldo, vamos admitir, o crime é sim fruto da marginalidade, da negação dos direitos, da segregação, da miséria. É também fruto da corrupção e da morosidade do poder público que não enfrenta como deveria. É um fato social inegável. Enquanto houver diferenças, haverá criminosos.
Quero deixar claro uma coisa: concordo com o combate ao crime sim, pois não sou louco, mas discordo veementemente da forma como esta sendo dirigida essa operação no Rio. Embora eu cá na Bahia não tenha muito que ver com a brasa da sardinha dos outros, entendo que como cidadão, devo apenas advertir que esta é uma política vergonhosa. Não se faz segurança pública desta maneira. Devo advertir ainda que o crime não foi aniquilado e me preocupo com os policiais e suas famílias, que no cumprimento do dever tem colocado suas vidas em perigo, pois enquanto o crime é organizado, o Estado mete os pés pelas mãos.
O problema do Rio vai além de suas fronteiras pois drogas e armas entram nesse país com muita facilidade, nossas fronteiras são mal vigiadas; além disso tem a famigerada corrupção, a meu ver o pior de todos os males desta nação, a currpção é responsável por permitir que criminosos tenham acesso a armas de uso exclusivo do exército, tenham facilidade para se locomover entre tantos outros privilégios (assistam ao Tropa de Elite 1 e 2); o déficet de policiais por habitante e o despreparo da maioria dos militares se aliam à essa ineficiência da segurança pública. Depois ainda tem as penitenciárias em estado crítico, verdadeiras faculdades do crime; ainda tem a lerdeza das tramitações dos processos judiciais, a falta de promotoria, falta juizes, os advogados corrúptos; vem a ilegalidade das milícias fazendo o trabalho sujo que o Estado varreu pra baixo do tapete, a lista é longa e o Estado fecha os olhos. Mas nós, cidadãos, não podemos fechar nossos olhos para os desmandos oportunistas de um Governo que quer fazer bonito para o mundo equanto nós ficamos à mercê de migalhas.
Essa guerra não chegou ao fim. Não há vencedores. A paz instalada é falsa como nota de duzentos reais. Aguardem os próximos episódios.

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