Eu nunca planejei estudar
filosofia, na verdade, eu só planejei estudar. O ponto de partida foi gostar de
ler e ter uma sincera curiosidade pelo avesso das coisas que lia, ouvia ou via.
Foi assim que a filosofia se mostrou o campo da ciência onde eu poderia
encontrar a sistemática necessária para continuar estudando. Aquele que não
compreende a filosofia como a mãe de todas as ciências, desconhece a natureza
de tudo o que professa.
Gostar de ler é algo raro no
jovem brasileiro. Graças às péssimas sugestões de leituras oferecidas e
exigidas pelas escolas, o jovem brasileiro aprende que ler é a coisa mais
enfadonha do mundo. E de fato é se você obrigado a ler algo que não gosta ou
que não lhe chama atenção. Eu garanto que, se tivesse lido o chato do Jorge
Amado com sua literatura pedante, jamais teria me tornado um leitor. Mas por
acaso, na casa de uma professora de literatura, encontrei um livro de Sidney
Sheldon, e depois de ler a primeira página, não consegui mais parar de ler. Foi
minha salvação.
Questionar ou buscar o outro lado
de qualquer afirmação também foi algo que me ajudou a buscar o conhecimento. Sempre
acreditei que toda história tivesse dois lados ou duas versões, depois fui
percebendo que a história só tem duas versões quando uma delas é falsa. A
história é, por vezes, a narração de um ponto de vista e não a descrição da
realidade embora a realidade exista na dinâmica do tempo onde não pode ser
alterada. A busca da verdade (realidade) é a atividade sobre a qual o filósofo
deve se debruçar.
Outra coisa boa que fez a
diferença na minha vida intelectual foi ouvir histórias. Meus pais nunca foram
bons nisso, porém, todos os domingos eu me sentia animado para ouvir as
histórias bíblicas contadas na Escola Dominical. Davi e Golias, Rainha Ester,
José do Egito e outras histórias alimentaram a minha fantasia infantil, com uma
das maiores lições da vida: é possível vencer o mal sendo bom e agindo
corretamente.
Todo filósofo pode se dar ao luxo
de escolher uma corrente ideológica, mas os filósofos de verdade são aqueles
que ignoram seu posicionamento pessoal para absorver tudo o que está proposto
pela intelectualidade mundial e talvez, quase no final dos seus dias, ter algum
vislumbre de entendimento e transformar tudo em obra literária. Fazer o caminho
inverso, isto é, sair por ai dizendo tudo o que defende sem se dar ao trabalho
de ouvir as vozes dos filósofos mortos, é pura ilusão.
A filosofia não é a ciência que
vai fazer deste mundo um lugar melhor pra viver. Ela é a ciência que vai tentar
compreender melhor o mundo em que vivemos. Seu papel é apenas este: compreender
o mundo. O uso que se faz dessa compreensão de mundo não estará mais no campo
da filosofia, talvez nas ciências políticas, sociais, geográficas, enfim, mas
não na filosofia. Interessa-me mais a compreensão que sua aplicação ao mundo
prático.
Comentários
Postar um comentário
Obrigado por comentar este tópico.