Paulo Rosenbaum
O transe que tomou conta do país, longe do fim, agora decanta alguma
clareza. A da saturação. Notou que cada pedra do muro de Berlim,
guardada como souvenir ou vendida em leilões on line, revela um
significado que te escapa? Sinto não ter te convencido que não queremos
mais controle. Que o Estado que te seduz não nos interessa. É o
anti-desejo do mundo. Que recusamos menos liberdade, não importa o que
você ofereça em troca? Se somos minoria? Até anteontem. Parece que teu
consolo, e a de muitos outros, é diagnosticar indignação como sintoma
de direita. Calma. A insatisfação sem dono é um junho que ainda paira no
ar. Nem progressista, nem conservador. Lembra que vocês criaram o
ensaio “massas sem rumo”. A mesma que agora buscou respiro nas urnas.
Que desafiou teus planos tiranos. E abriu clareira. Mas, para você,
argumentos nunca foram suficientes. Os princípios? São úteis quando
favorecem tua ideologia monopsista. Eu sei. Só seu grupo sabe como tirar
o mundo da miséria.Vocês podem ter a formula, não a governabilidade. Um
pouco de coragem para ouvir com atenção: recusamos ser o laboratório
das tuas idiossincrasias políticas.
Agora que pensas que o jogo terminou e garante que estão limpos – como se acreditássemos — vou te dizer o que é golpe:
Golpe é a opacidade. Golpismo é tergiversar sobre dados reais. É
golpe acusar os demais de golpistas. Golpe é enaltecer o sectarismo. É
golpismo mentir à opinião pública. Golpe é, enquanto atacas, simular que
está sendo golpeado. Golpear é subsidiar regimes de exceção com nosso
erário. Golpe é imaginar ser dono de olho único em meio à cegueira
generalizada. Golpear é ameaçar os desprotegidos com cassação das
bolsas. Golpismo é apontar nossas paranoias, enquanto municias agendas
paralelas. É Golpe ofertar o que já foi ofertado. Golpe é conluio com
ditadores. Golpear é servir-se da República como partido. Golpe é a
manipulação política do medo. Golpistas simulam condescendência e
endurecem pelas costas. Golpe é reduzir o País a dois lados. Golpe é
insuflar a litigância. É golpismo vingar-se em quem não se curva. Golpe
é usar a democracia para adultera-la. Institucionalizar o aparelhamento
é um senhor golpe. Golpe é monopolizar a justiça. Golpear é operar nos
bastidores. É Golpista amordaçar a liberdade de expressão. É golpismo
tomar sufragistas como clientes. Golpe é acusar quem não governa pelas
omissões de quem o deveria fazer. Demonizar oponentes: golpe. É golpista
dedurar o palanque alheio. Golpe é sumir com o reflexo para se ocultar
no espelho. Golpe é não assumir.
Ps – Não é golpe dar ouvidos a 51 milhões de vozes.
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