Li recentemente dois livros que ajudam entender a atual situação
brasileira: “Antes que anoiteça”, do poeta cubano Reinaldo Arenas, e “A
Brincadeira”, do romancista tcheco Milan Kundera. Um terceiro livro
importante para esclarecer os dias correntes é “Ponerologia”, do
psicólogo polonês Andrew Lobaczewski. Eu diria que as obras de Arenas e
Kundera descrevem de maneira literária o mesmo drama que Lobaczewski
analisa pelo viés científico: o que acontece quando um partido de
psicopatas e criminosos assume o poder.
É inconcebível que uma
pessoa intelectualmente honesta leia o livro de Reinaldo Arenas e
continue defendendo o regime cubano. A quantidade de sofrimento a que
esse homem foi submetido por Fidel Castro e sua revolução desafia os
limites da expressão verbal. Foi preciso que um escritor de talento
sofresse na pele a brutalidade do socialismo cubano para traduzi-la de
maneira adequada. Arenas escreve “com o coração nas mãos”.
O
título “Antes que anoiteça” faz referência ao período em que o escritor
cubano, fugitivo da polícia de Fidel, escondeu-se nos bosques de um
local como Parque Lênin. Durante o dia, escondido nas copas das árvores,
ele escrevia seus poemas e memórias. À noite, era impossível escrever,
por causa da escuridão.
Arenas deixou Cuba durante o chamado
“Êxodo de Mariel”, em 1980, quando mais de 100 mil pessoas trocaram o
paraíso socialista pelo exílio nos Estados Unidos. Mariel é esse mesmo
lugar em que o PT está financiando a construção de um porto para a
ditadura cubana, com o dinheiro dos brasileiros.
Em “A
Brincadeira”, Kundera conta a história de um jovem que resolve escrever
um bilhete irônico para a namorada nos seguintes termos: “O otimismo é o
ópio do gênero humano! O espírito sadio fede a imbecilidade. Viva
Trotsky! Ludvik”. A intenção de Ludvik era apenas impressionar a moça,
mas a brincadeira se torna sua desgraça. Considerado inimigo do regime
socialista, ele perde a vaga na universidade e é obrigado a trabalhar em
uma mina de carvão (da mesma forma que Arenas seria obrigado a
trabalhar em um canavial).
O professor José Monir Nasser dizia
que o socialismo é o império da inveja e da delação. Os livros de
Kundera e Arenas retratam perfeitamente essa atmosfera de medo e
desconfiança, em que o suposto amigo pode ser um informante do governo.
Se as coisas no Brasil continuarem seguindo o mesmo rumo, em breve
poderemos ser destruídos por uma brincadeira ou precisaremos escrever
nossas opiniões escondidos antes que anoiteça. Aliás, já anoiteceu. Eles
estão – e continuam – no poder.
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