Dialética das esquerdas: Heitor De Paola fala sobre o Foro de São Paulo


O PT não foi “designado”, foi o fundador do Foro de São Paulo, arquitetado pelo Marco Aurélio Garcia. Toda a ideia do Foro é genuinamente made in Brazil. Fidel apreciou a dádiva e incentivou Lula.

Nota de Heitor De Paola
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Entrevista concedida a Fabiano Guimarães e Bruna Santana como parte da reportagem “Dialética das esquerdas: O Foro de São Paulo”,para o trabalho de conclusão de curso (TCC) de jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Informaram os entrevistadores que sua reportagem foi um sucesso e estão aprovados. Parabéns aos novos jornalistas!


1 - O Foro foi criado em 1990 para “reconquistar no América Latina o que foi perdido no leste europeu”, segundo o próprio Fidel. Como interpretar essa fala? Quem havia perdido o quê? Em suma, em que Cuba dependia da URSS?

Heitor De Paola: Esta frase não é de Fidel, mas de Lula, apud Marco Aurélio Garcia. Cuba dependia da URSS para absolutamente tudo. A economia cubana estava aos pedaços e a ajuda de mais de 1 bilhão de dólares anuais da URSS era essencial, não para o povo, que continuava miserável,  mas para implementar os mecanismos de controle do Partido Comunista como plataforma de infiltração na América Latina.  Com o fim da ajuda soviética em 1992 o regime soçobrava e abria-se a ameaça de ser derrubado.

Não foi a primeira vez que uma organização continental foi criada para salvar o regime comunista cubano. Em 1966 o então futuro presidente comunista do Chile, Salvador Allende, fundou a Organización Latinoamericana de Solidariedad (OLAS), cujo objetivo secreto era organizar pequenos grupos armados com instrução de guerrilha e apoiá-los logisticamente para libertar o continente dos governos capitalistas ou contrários ao socialismo.
Note-se bem: não falo em salvar o país, que só será salvo com a derrubada do regime comunista e a implantação da liberdade e democracia. Exatamente o oposto para o qual serviram a ajuda da OLAS e do Foro de São Paulo.

Lula havia prometido mandar ajuda, como hoje a Dilma faz, para viabilizar a ditadura cubana no poder, caso fosse eleito em 1989. Com a derrota para Collor foi acionado o “Plano B”, como se diz hoje em dia: a união de todas as organizações comunistas e genericamente esquerdistas da América Latina que foram convocadas para uma reunião em São Paulo. O verdadeiro organizador foi Marco Aurélio Garcia que desde a posse de Lula até hoje ocupa o cargo de “Assessor Presidencial Especial para Política Externa”, o verdadeiro Ministro das Relações Exteriores, os que ostentam este título desde então não passam de fantoches.

Quanto ao que foi perdido no Leste Europeu, foi exatamente o fim da URSS e a independência das 15 Repúblicas Socialistas Soviéticas Federadas (Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão, Estônia, Geórgia, Letônia, Lituânia, Moldávia, Quirguistão, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão). Com a desintegração, algumas constituiriam a Comunidade de Estados Independentes (CEI). Além delas, os países satélites submetidos ao jugo soviético desde a invasão do Exército Vermelho durante e após a II Guerra Mundial, que constituíam o que Churchill denominou “Cortina de Ferro”, também se livraram das ditaduras comunistas. A primeira foi a Polônia, cujo sindicato Solidariedade amplamente apoiado pelo Papa polonês João Paulo II e Lech Walesa derrubou o governo comunista. Ainda a Tchecoslováquia, que formou duas repúblicas independentes, a Tcheca e a Eslováquia, a Hungria, Bulgária, Romênia, Iugoslávia, cujas seis unidades eram mantidas unidas pela mão de ferro comunista da Sérvia.



2 - Nos últimos dez anos, uma série de partidos de esquerda ascendeu aos governos da América Latina. Você acredita que essa “onda vermelha” seja obra do Foro de São Paulo? Por quê?
Heitor De Paola: Sem a menor dúvida. É só ler o discurso de Lula na celebração dos 15 anos do Foro de São Paulo publicado na íntegra em meu site:
“E eu queria começar com uma visão que eu tenho do Foro de São Paulo. Eu que, junto com alguns companheiros e companheiras aqui, fundei esta instância de participação democrática da esquerda da América Latina, precisei chegar à Presidência da República para descobrir o quanto foi importante termos criado o Foro de São Paulo. E digo isso porque, nesses 30 meses de governo, em função da existência do Foro de São Paulo, o companheiro Marco Aurélio tem exercido uma função extraordinária nesse trabalho de consolidação daquilo que começamos em 1990, quando éramos poucos, desacreditados e falávamos muito. Foi assim que nós pudemos atuar junto a outros países com os nossos companheiros do movimento social, dos partidos daqueles países, do movimento sindical, sempre utilizando a relação construída no Foro de São Paulo para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política. Foi assim que surgiu a nossa convicção de que era preciso fazer com que a integração da América Latina deixasse de ser um discurso feito por todos aqueles que, em algum momento, se candidataram a alguma coisa, para se tornar uma política concreta e real de ação dos governantes. Foi assim que nós assistimos a evolução política no nosso continente.

E é por isso que eu, talvez mais do que muitos, valorize o Foro de São Paulo, porque tinha noção do que éramos antes, tinha noção do que foi a nossa primeira reunião e tenho noção do avanço que nós tivemos no nosso continente, sobretudo na nossa querida América do Sul. Todas as vezes que um de nós quiser fazer críticas justas, e com todo direito, nós temos que olhar o que éramos há cinco anos atrás na América Latina, dez anos atrás, para a gente perceber a evolução que aconteceu em quase todos os países da nossa América. E eu quero dizer para vocês que muito mais feliz eu fico quando tomo a informação, pelo Marco Aurélio ou pela imprensa, de que um companheiro do Foro de São Paulo foi eleito presidente da Assembléia, foi eleito prefeito de uma cidade, foi eleito deputado federal, senador, porque significa a aposta decisiva na consolidação da democracia no nosso país.
Eu quero dizer uma coisa para vocês: não está longe o dia em que o Foro de São Paulo vai poder se reunir e ter, aqui, um grande número de presidentes da República que participaram do Foro de São Paulo.”

É preciso algo mais?
O desmantelamento da guerrilha e do terrorismo esquerdista pela pronta ação dos militares em 64 e principalmente em 68, juntamente com as ações militares no Chile (derrubada do governo comunista de Allende e esfacelamento o do Movimiento Izquierda Revolucionária – MIR), Argentina (destruição da capacidade de fogo dos Montoneros e do Ejército Revolucionário del Pueblo - ERP) e Uruguai (desmantelamento dos Tupamaros), as esquerdas ficaram órfãs. A grande maioria não foi exterminada, como fariam com os inimigos “reacionários” se tivessem conseguido o poder; fugiram e se asilaram em países europeus, africanos e os mais notórios, na Rússia, Tchecoslováquia, China e Cuba. Cuba continuou coordenando as ações de todos eles com os que permaneceram clandestinos em seus países.
3 - Qual é a diferença entre a revolução silenciosa do socialismo do século XXI e as revoluções precedentes, como a cubana e as investidas de 30 e 60 no Brasil?
Heitor De Paola: Na verdade este socialismo do século XXI iniciou-se na década de 50 do século XX. A origem é a “revolução dentro da revolução” levada a efeito pelo estudo da obra de Antonio Gramsci. Os Cadernos e as Cartas do Cárcere foram escritos de forma cifrada para sua cunhada, Tatiana Schuch, a qual, junto com o economista Piero Sraffa, professor em Cambridge, manteve os manuscritos e ao retornar à Rússia entregou-os a Palmiro Togliatti, o sucessor de Gramsci como presidente do Partido Comunista Italiano. Os grandes temas estudados por Gramsci foram a filosofia de Benedetto Croce, a questão dos intelectuais e da educação, Maquiavel e a política moderna, o passado e o presente, o Risorgimento italiano, a literatura e a vida nacional. Togliatti, que fugira para a União Soviética onde houve até uma cidade o homenageando – Togliattigrad, onde mais tarde foi instalada a fábrica soviética da FIAT – compreendeu a importância fundamental dos escritos, traduziu-os para o russo e encaminhou para o Comitê Central e o Politbüro do PCUS onde foram exaustivamente analisados por ordem de Nikita Khrushchëv. A partir de 1964 o estudo foi coordenado pelo ideólogo Mikhail Andreyevich Suslov.

A principal lição foi a de que a revolução comunista nada tinha de proletária, era um movimento de intelectuais, latu sensu, em busca do poder. Portanto, não havia mais sentido em revoluções violentas, pois a classe intelectual não tem densidade para isto. Haja vista o total fracasso, p. ex., da guerrilha do Araguaia, que não conseguiu mobilizar nenhum proletário ou camponês, ficando nas mãos de meia dúzia de (pseudo-)intelectuais, da mesma maneira que a tentativa de 35 aqui no Brasil (Intentona Comunista). Nos idos de 60 o povo se levantou foi contra a revolução, apoiando em massa a contra-revolução (e instando os militares a saírem da caserna para comandar a reação anticomunista).

As experiências russa, vietnamita, chinesa e cubana tiveram características próprias. Na Rússia foi fácil levantar um Exército faminto no qual os soldados eram espancados e tratados como animais pela oficialidade aristocrática arrogante de um Império corrupto e prepotente. Mesmo assim o golpe de estado bolchevista contra República Russa implantada em fevereiro, golpe eufemisticamente chamado de “revolução”, só foi possível com a ajuda imprescindível do Império Alemão, (uma traição tão a gosto das esquerdas mundiais). Mesmo assim enfrentaram uma guerra civil demorada e cruenta. No Vietnã e na China houve o enfretamento de potências estrangeiras odiadas (França e Japão) e na última uma força nacionalista corrupta – o Kuomintang. Em Cuba imperavam sucessivos governos comandados pela Máfia de Nova Iorque e Las Vegas.

Além de reformular a teoria de Maquiavel, mostrando que modernamente o Príncipe é o Partido, Gramsci demonstrou que de nada adianta a tentativa violenta da tomada do poder. É preciso primeiramente invadir todos os espaços do aparelho do Estado e da sociedade – universidade (principalmente as disciplinas de filosofia, ética, sociologia, psicologia), escolas secundárias, mídia, empresas estatais, sociedades de psicologia, psiquiatria e psicanálise, forças armadas e, principalmente a maior inimiga da revolução, a Igreja Católica - e tomá-los por dentro até que o Partido-Príncipe esteja suficientemente forte para tornar-se hegemônico. O objetivo principal desta fase é a modificação do senso comum. Conseguindo atingir a hegemonia e o senso comum modificado é fácil tomar o poder silenciosamente de forma tal que ninguém perceba que está se entregando sem resistência à revolução comunista.

4 - Em sua opinião, quais são os fatores que explicam ter sido o PT o partido designado a fazer o “chamamento das esquerdas” em torno do Encontro de Partidos e Organizações de Esquerda, germe do Foro, nos anos 90?
Heitor De Paola: O PT não foi “designado”, foi o fundador do Foro de São Paulo, arquitetado pelo Marco Aurélio Garcia. Toda a ideia do Foro é genuinamente made in Brazil. Fidel apreciou a dádiva e incentivou Lula.
5 - Comentando o fim do paradigma da luta armada logo após a queda do Muro de Berlim, Roberto Regalado, do PCC, membro fundador do Foro, disse: “O exemplo da esquerda que surgia após a etapa de luta armada foi o PT”. Poderia comentar essa fala?
Heitor De Paola: Exatamente pelas respostas 3 e 4: o PT já foi fundado por um grupo de intelectuais como o “partido-príncipe”, seguindo estritamente as normas gramscistas. A razão do PT ter tantas dissidências internas é porque muitos se juntaram a ele sem saber da verdade, acreditando que era um partido revolucionário à antiga, assim como o PCdoB, PSTU, etc. Alguns intelectuais não estavam também informados do conceito de ética revolucionária de Gramsci e se decepcionaram com as ações petistas que para os desavisados parece ser pura corrupção. Quem usou o termo “partido ético” conhecendo Gramsci sabia que nada tinha a ver com a ética “burguesa” tradicional que inclui honra, honestidade, lealdade. Os que acreditaram que era esta mesma ética não entenderam que o PT é tão ético hoje como prometia. FHC que conhece bem e aceita a ética revolucionária, embora finja não a praticar, recusou forçar o impeachment de Lula quando foi denunciado o mensalão porque entendeu perfeitamente que a ética petista não foi sequer arranhada pelas falcatruas que serviam para provimento de caixa ao partido-príncipe. (É de se notar, mais recentemente, a nefasta influência gramscista-petista ao instrumentalizar todos os poderes da República: a renúncia do presidente do STF até mesmo da Relatoria do “mensalão”, e sua substituição na presidência e na relatoria por notórios defensores dos réus, a neutralização das Forças Armadas pela nomeação de comandantes simpáticos à causa revolucionária e a nomeação de uma petista para presidente do Superior Tribunal Militar defendendo a revisão da Lei da Anistia. Acrescente-se a instituição pelo Decreto 8243/2014 dos Conselhos - sovietes - ligados ao Executivo e a tomada totalitária do poder em breve estará completa.

Para quê luta armada se é possível conquistar o poder sem um único tiro? Este é o partido “pós-luta armada” por excelência.

6 - Em 2010 o secretário executivo do Foro de São Paulo, Valter Pomar, negou enfaticamente que as FARC tenham algum dia participado das reuniões da instituição. Você acredita nisso? Por quê?
Heitor De Paola: É claro que não concordo porque não passa de uma mentira deslavada de Pomar. Lembrem-se que a mentira é o prato cotidiano dos comunistas. De tanto mentirem as mentiras parecem soar verdadeiras. Não foi Goebbels quem inventou esta expressão, foi Féliks Dzherzhinsky, primeiro chefe da polícia secreta soviética (TCHE-KA).
A primeira representação oficial das FARC no exterior foi em Ribeirão Preto, São Paulo, quando o prefeito era Antônio Palocci, que veio a ser o chefe de campanha de Lula depois da morte suspeita de Celso Daniel. Para o Pomar seria pura coincidência?

Para mais informações basta ler o artigo de Edson Camargo no Mídia Sem Máscara de 20 de julho de 2010. Lá é relatada a entrevista do então segundo homem das FARC, Raúl Reyes, na
Folha de São Paulo. Alguns trechos:

Folha de S.Paulo - O sr. conheceu Lula?

Reyes - Sim, não me recordo exatamente em que ano, foi em San Salvador, em um dos Foros de São Paulo.

Folha de S.Paulo - Houve uma conversa?

Reyes - Sim, ficamos encarregados de presidir o encontro. Desde então, nos encontramos em locais diferentes e mantivemos contato até recentemente. Quando ele se tornou presidente, não pudemos mais falar com ele.

Folha de S.Paulo - Fora do governo, quais são os contatos das Farc no Brasil?

Reyes - As Farc têm contatos não apenas no Brasil com distintas forças políticas e governos, partidos e movimentos sociais. Na época do presidente [Fernando Henrique] Cardoso, tínhamos uma delegação no Brasil.

Folha de S.Paulo - O sr. pode nomear as mais importantes?

Reyes - Bem, o PT, e, claro, dentro do PT há uma quantidade de forças os sem-terra, os sem-teto, os estudantes, sindicalistas, intelectuais, sacerdotes, historiadores, jornalistas...

Folha de S.Paulo - Quais intelectuais?
Reyes - [O sociólogo] Emir Sader, frei Betto [assessor especial de Lula] e muitos outros
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Vale ler o artigo completo e as referências no livro ‘O Eixo do Mal Latino-Americano e a Nova Ordem Mundial’, de minha autoria.
7 - Como você avalia a saída política para o conflito armado na Colômbia?
Heitor De Paola: "Saída política" é o que desejam as FARC, as organizações pró-terroristas e os governos que as apóiam, majoritariamente pertencentes ao Foro de São Paulo. O fim do conflito só pode se dar com a rendição total, incondicional e absoluta, inclusive com entrega das armas por parte dos assassinos. Além disso, não basta desarticular a ala armada das FARC, mas, sobretudo, as alas política, cultural e diplomática que elas mantêm ao redor do mundo, inclusive dentro das universidades. Ademais, as FARC querem se tornar um partido político legal sem pagar uma só hora de cadeia por seus crimes, não querem indenizar suas vítimas (pelas vidas arruinadas, pelas propriedades e bens roubados), pelo número enorme de pessoas arruinadas pelas drogas que elas produzem e traficam e pelas famílias destruídas e muito menos devolver ao Estado o dinheiro fruto do tráfico. E querem entrar para a vida política para, legalmente, transformar a democracia colombiana em um regime criminoso como os vigentes em Cuba e Venezuela. Não há nada de político nas FARC, uma organização criminosa que só pode ser destruída. (Esta resposta se tornou irrelevante após a reeleição de Santos, o aliado das FARC).
8 - Um dos argumentos usados para justificar a anistia das FARC e sua transformação em partido político sustenta que muitos dos partidos de esquerda que hoje são legais também foram considerados ilegais no passado. Como você encara esse raciocínio?
Heitor De Paola: Esse raciocínio é, antes de tudo, injusto e torpe para quem vem ao longo de cinco décadas cometendo atos de terrorismo considerados como crimes de lesa-humanidade, e narcotráfico. São milhares de vítimas diretas assassinadas em atos terroristas ou individualmente, além de uma cifra incalculável de vítimas indiretas pelo tráfico de drogas ao redor do mundo. Vocês se referem à frente Farabundo Martí de Libertación Nacional (FMLN), fundada nos anos 80 em El Salvador como grupo armado e transformado (com a ajuda do Foro de São Paulo) em partido legal nos anos 90, à guerrilha colombiana M-19, que deu origem ao partido "Polo Democrático Alternativo", aos brasileiros Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), responsável pelo Partido Pátria Livre, e o PCdoB. Nenhum desses bandos terroristas teve vida tão longa, nem deixou um saldo de horror tão devastador quanto as FARC. Portanto, acredito que uma coisa não justifica a outra, nem valida a insanidade da legalização dos outros partidos. Além do mais é muita ingenuidade acreditar que esses partidos tenham realmente se tornado democráticos. Eles apenas aceitam a democracia como meio para acabar com ela assim que tenham maioria.

As FARC não passam de uma quadrilha de bandidos travestida de política. Sua origem é ligada ao Plan Colombia do governo Bill Clinton. Este plano arrasou os tradicionais cartéis de Cali e Medellin e não tocou nas FARC, então um pequeno grupo de bandoleiros lutando para concorrer com os mais poderosos, que recebeu de Clinton o monopólio do narcotráfico e se expandiu enormemente. Não foi um erro de Clinton, foi premeditado: o Departamento de Estado, depois da limpeza promovida por Reagan, voltou a ser entregue à esquerda do Partido Democrata que está se lixando para a juventude americana que se droga com os “produtos” exportados pelas FARC.

9 - Além de um princípio de “não-exclusão” de organizações-membro devido à sua forma de luta, há também uma declaração do Foro a qual considera os levantes populares e movimentos armados como “patrimônio das esquerdas”. Historicamente, qual é (se há) a relação entre grupos armados e ideologia de esquerda?
Heitor De Paola: Temos que dividir em partes esta pergunta.

1- “Formas de luta” é uma expressão de tal hipocrisia e canalhice que beira a psicopatia. Matar pessoas, drogá-las, viciá-las para as escravizarem é forma de luta? (Em sendo) o Fernandinho Beira-Mar é crime hediondo, mas se for as FARC é “forma de luta”?

2- Há uma confusão entre levantes populares e grupos armados. Nem todos os levantes populares são armados e nem todos os grupos armados são populares. Dois exemplos atuais de levantes genuinamente populares são os dos bravos povos ucraniano e venezuelano. Eles enfrentam grupos armados nada populares: os comandos russos – e pró russos - e os bolivarianos, ambos mercenários. Os dois levantes combatem governos que usualmente se chamam de esquerdistas, portanto é falso que os levantes populares são “patrimônio das esquerdas”.

3- Grupos armados e ideologias de esquerda: se abandonarmos os conceitos de esquerda e direita cujo significado vem da Revolução Francesa, mas foram modernamente modificados por Stalin após a invasão alemã da URSS para criar uma falsa oposição entre nazismo e comunismo, e usarmos o termo revolucionário para ambas as tendências, certamente os levantes armados, populares ou não, são patrimônio dos revolucionários.

O exemplo mais claro do enfrentamento de diversos grupos armados revolucionários aconteceu durante a República de Weimar entre as milícias spartacistas (da Spartakusbund, precursora do Partido Comunista Alemão) e comunistas, os Stahlhelm (Capacetes de Aço), Freikorps (grupos de ex-combatentes da I Guerra Mundial) e as SA (Sturmabteilungen) nazista.


(Com a colaboração de Graça Salgueiro sobre a América Latina, e pequenos acréscimos.)


http://heitordepaola.com/

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