Não se sabe, e talvez nunca iremos conhecer, quantos milhões de
dólares o Estado venezuelano por intermédio do tenente-coronel Hugo
Chávez, colocou nas mãos de Lula da Silva e Marco Aurélio García, seu
braço direito e o homem encarregado da Conexão São Paulo-Caracas, para
ganhar a presidência do Brasil em 2003.
Hugo Chávez assim cumpria com obediência um compromisso selado com
Fidel Castro, seu pai putativo:colocar o ex-sindicalista metalúrgico de
origem trotskista na presidência da primeira potência sul-americana e de
lá espalhar o castrochavismo por toda a região. A julgar pelos
bilhões de dólares anualmente e mais de 100.000 barris de petróleo por
dia a Cuba desde então, a mão que ajudou o PT a chegar ao poder pela
porta da frente deve ter sido extremamente generosa.
Tanto é assim que Chávez aparecia inesperadamente nos momentos mais
inoportunos em Brasília para ver como cresciam seus ganhos no
investimento político. Vir dessa maneira rompia o protocolo e
perturbava o Itamarati,mas era um direito adquirido. Anos mais tarde,
"as malas" carregadas com milhões de dólares da PDVSA se tornariam
emblemáticos na América Latina, pelo menos, uma delas contendo $
800.000,00 descoberta em um incidente desconfortável na Alfândega de
Buenos Aires enquanto corria a campanha presidencial de Cristina
Fernández .
Até hoje ninguém conhece o quanto foi o valor total investido pelo
governo venezuelano na eleição e reeleição dos Kirchner. E também nas
outras de todos os outros Presidentes participantes do Foro de São
Paulo. O que não esqueçemos é dos 5.000 milhões de dólares que foram
entregues para resolver seus problemas financeiros. Foram devolvidos?
Depois da machadada que o tenente-coronel venezuelano deu em dezembro de
1998 na desamparada e desorientada quarta república , transcorreram
apenas quatro anos para Lula ocupar o governo do Brasil e cinco meses
mais para Nestor Kirchner na Argentina. Conquistada as jóias da coroa - Venezuela, Brasil e Argentina - o resto foi cozinhar e cantar .
Se bem que no caso de Evo Morales na Bolívia teve que passar mais três
anos,e quatro para Rafael Correa no Equador além de trilhas de
turbulências,tumultos, golpes de estado, e várias derrubadas - na
Argentina foram feitos e desfeitos governos em hora - e outros acidentes devido a obstinação com que Fidel Castro, Lula e o Foro de São Paulo tinham decidido:
a nova estratégia ordenava entrar no poder pela porta da frente das
eleições com plena legitimidade de origem para logo dar as mesmas
condições que existem na Venezuela, ou seja o andar na ilegitimidade ,
esvaziar as instituições democráticas de todo o conteúdo vinculante,e
convertê-las em figuras decorativas de um novo estabelecimento, como na
atual Venezuela: fundando repúblicas socialistas e bolivarianas.
Uma década mais tarde e quebradas todas as barreiras convencionais, o
ex-guerrilheiro Tupamaro Pepe Mujica montaria no poder no Uruguai, A ex-guerrilheira Dilma Rousseff sucederia Lula no Brasil por dois mandatos consecutivos
e a militante socialista clandestina Michelle Bachelet, criada no RDA,
voltaria ao poder do Estado chileno livre dos compromissos e laços da
velha coalizão democrata , com o projeto para reviver a velha Unidade
Popular, desta vez segundo o sonho acalentado de Luis Corvalan,
ex-secretário-geral do Partido Comunista do Chile: com o centro dos
democratas-cristãos acoplados ao carro da esquerda marxista. O
desiderato. Em 22 anos, de 1992-2014, a tarefa parecia completa: América
Latina estava nos braços do ancião de Havana. Seu Deus : Hugo Chávez.
É uma aquisição sistemática, persistente e sem fissura do
castrochavismo para tomar o controle da região, sem disparar um tiro,
sem derramar uma gota de sangue, sem perturbar a ordem institucional e
as boas consciências do democratismo que prevalece no Ocidente.No topo
da coroação, o controle absoluto da OEA, nas mãos do militante
socialista José Miguel Insulza, e de todos os órgãos regionais. A
quadratura do círculo. Por um suspiro a dominação na América Latina não
terminou sem hiatos: México e Peru foram salvos, por agora, por décimos
de pontos. Eles seguem em sua mira.
Neste 09 de novembro se comemora 25 anos da queda do Muro de Berlim, um
antecedente direto da implosão da União Soviética e o desaparecimento do
bloco "por trás da cortina de ferro." Ambos os eventos,foram sucessos -
a caída do Muro com suas conseqüências históricas universais e a
expansão do castrochavismo na América Latina, assim parecem
absolutamente desvinculados alheios,porém eles estão em grau
superlativo.
O desaparecimento da União Soviética, em 1991, e do subsídio que
mantinham viva desde o início a revolução produziu um efeito devastador
sobre Cuba, dando início ao chamado "período especial". Pela primeira
vez em 32 anos de sua história ,a Cuba revolucionária parecia obrigada a
viver por conta própria, para a qual nunca esteve e nunca estará
capacitada. Ou vive da caridade alheia ou desfalece. A redução brutal de
cerca de 36% do PIB apenas nos dois primeiros anos do período, a falta
de petróleo e alimentos essenciais ,levou a propagação de doenças,
devido à desnutrição, incluindo uma insólita e medieval epidemia de
cegueira, e um esforço ultrajante para empreender reformas que
permitissem a simples sobrevivência. Atenuada em parte pela abertura,dos
investimentos europeus, em particular o turismo espanhol,que foi
reforçado mediante a implantação de uma ancestral indústria cubana
oriunda dos tempos da grande frota espanhola: a prostituição como uma
fonte de divisas.
É quando Fidel Castro se volta novamente para a América Latina e
funda em 1992, conjuntamente com Lula da Silva, o chamado Foro de São
Paulo, uma espécie de Latin American International marxista que
reúne todos os partidos de esquerda e extrema esquerda, movimentos
guerrilheiros e ONGs duvidosas da região para coordenar os esforços na
sequência de um segundo grande combate pela conquista da América
Latina e da expansão do regime de Fidel Castro, sob as renovadas formas
de uma estratégia combinada, pacífica, eleitoral e suficientemente
versátil e flexível para se adaptar a as circunstâncias específicas de
cada país.
As graves carências do período especial, a teimosia e a infinita
paciência de Fidel Castro reuniram-se para uma grande vitória
estratégica. Como tem acontecido ao longo de sua vida, a sorte estava
com ele no intento. Encontrando primeiro a compreensão e ajuda de três
reconhecidos líderes democráticos- Felipe González, Carlos Andrés Pérez e
Cesar Gaviria - erroneamente convencidos de que era possível reintegrar
Castro e seu regime totalitário ao seio das democracias
latino-americanas e da OEA, e logo em seguida, Fidel encontrou um
comandante golpista em que viu de imediato a perspectiva e a capacidade
de aproveitar da Venezuela tomando seu petróleo ,esse que seria uma arma
ao cair em suas mãos - como foi afirmado pessoalmente por Fidel a Regis
Debray e a sua esposa venezuelana Elizabeth Burgos durante a segunda
metade dos anos sessenta em Havana "seria capaz de ganhar a dominação do mundo."
Esta relação, estabelecida com Hugo Chávez após ser libertado da
prisão pelo presidente Rafael Caldera no ano de 1995 seria realidade e modelo do Foro de São Paulo
que iria usar os ensinamentos para conquistar : promover crises graves
nos sistemas de dominação, derrubar governos constituídos , conquistar
os governos mediante processos eleitorais-fraudulentos, manipulados ou
operados a partir do executivo - e implementar na prática o virtual
saque de instituições democráticas, como foi realizado na Venezuela. O
populismo, o estatismo e o clientelismo, as armas clássicas do
despotismo conservador latino-americano do passado, convertidos nas
novas armas de interferência marxista na região.
Longe de garantir a paz perpétua perseguida por Kant ou de colocar um
ponto final na história, como Fukuyama, a caída do Muro, a implosão do
bloco soviético e o desaparecimento da bipolaridade característica do
período da Guerra Fria aberto após o fim da II Guerra Mundial mais se
assemelha com o último suspiro de Nietzsche que a utopia pastoral
hegeliano marxista do Manifesto Comunista.
Na verdade, a derrota imposta aos soviéticos pelo governo Reagan com
sua guerra nas Galáxias enquanto cresciam as demandas por melhoria
social e econômica de seus cidadãos e a crise atingia contornos
exponenciais ,foi desmontada a gendarmerie (Corpo militar responsável
pela manutenção da ordem pública.) mundial das duas superpotências que
elas se ocuparam entre 1945 e 1990. Tanto a nível Europeu- A OTAM e o
Pacto de Varsóvia - e a nível mundial . A China reduziu a sua
intervenção em termos econômicos, tornando-se a primeira potência
mundial emergente, e os EUA reduziram drasticamente a sua capacidade de
intervenção policial nos conflitos internacionais, a Europa está quase
marginalizada na resolução de grandes conflitos, enquanto desaparecem
os quadros e diques de contenção dos conflitos sociais, raciais e
religiosos que assolam o Ocidente.
A ameaça da crescente instabilidade representada pelo Estado Islâmico
tanto para o mundo árabe como para o resto do mundo, assim como o freio
que sofre o crescimento econômico global, plantam interrogantes e
complexas questões difíceis de responder.
Naturalmente, esta situação de incertezas e conflitos globais prendem
os Estados Unidos a respeito de sua vigilância no quintal de sua casa
e deixam o terreno livre para a atividade e as pretensões
neocolonialistas do Foro de São Paulo . Não foi capaz de compreender
e antecipar os conflitos no Oriente Médio e as alianças que, no caso da
Venezuela, vão tão longe a ponto de fornecer uma plataforma para a
expansão e interferência do Talibanismo islâmico na região. Ao mesmo
tempo a penetração do capitalismo chinês, agora praticamente
proprietário do petróleo venezuelano. E no caminho para um crescimento
expansivo da sua influência econômica em todo o hemisfério.
Existem perspectivas razoáveis de sucesso para a recuperação total, a
curto e médio prazo, das democracias liberais na América Latina?
Este tipo de rearranjo de crises e mudanças de paradigma que se percebe
em países tradicionalmente estabilizado como Chile, poderia chegar a
fraturar seu próprio sistema político como os do Peru, Colômbia, México
e América Central?
Até agora, são perguntas sem resposta. Elas avisam sobre um panorama obscuro.
ANTONIO SÁNCHEZ GARCÍA
Editado e traduzido pelo Blog Alagoas Real.
La caída del Muro, el Foro de Sao Paulo y América Latina
La caída del Muro, el Foro de Sao Paulo y América Latina
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