A acusação de Lula, comparando a campanha dos
tucanos com o regime de Hitler mostra a que nível chegou a apelação do
ex-presidente para tentar manter o PT no poder
Por JOSÉ FUCS
É estarrecedor, para usar a palavra preferida pela presidente Dilma
Roussef na campanha eleitoral, a comparação dos tucanos com os nazistas,
feita ontem por Lula, durante um comício em Recife. No mesmo tom
raivoso com que vem destilando suas críticas a Aécio, Lula afirmou, para
surpresa e indignação não apenas de seus adversários, mas
principalmente dos que viveram os horrores do regime de Hitler, nos anos
1930 e 1940: “De vez em quando, parece que estão agredindo a gente como
os nazistas agrediam no tempo da 2ª Guerra Mundial”.
Num sinal de que perdeu completamente a noção dos limites estabelecidos
pelo jogo eleitoral, Lula ainda comparou os líderes do PSDB a Herodes e
Dilma, a Jesus: “Outro dia eu dizia para eles: vocês são mais
intolerantes que Herodes, que mandou matar Jesus Cristo quando ele
nasceu, com medo de ele virar o homem que virou. E vocês querem acabar
com o PT, com a nossa presidente, querem achincalhar ela, chamar ela de
leviana”.
É inacreditável que um ex-presidente chegue a esse nível de apelação
para angariar votos para sua candidata numa eleição que deverá ser
decidida voto a voto até o final da apuração. Com a história não se
brinca, mesmo que se admita “fazer o diabo para vencer uma eleição”,
como chegou a afirmar Dilma no início da campanha. Mesmo que se
aceitasse que a palavra "leviana" fosse mesmo um xingamento, que até
hoje não constava dos dicionários do gênero, e mesmo que Lula tivesse
razão sobre a intensidade dos ataques desferidos pela oposição contra
Dilma – o que, como se sabe, não é verdade -, isso não justificaria a
comparação feita com um dos regimes mais sanguinários e autoritários de
toda a história. Nada, absolutamente nada, nas atitudes de Aécio guarda a
menor semelhança com a carnificina provocada pelos nazistas em todo o
mundo, até porque ele apenas reagiu à tentativa de “desconstrução” de
sua candidatura pelo PT – uma estratégia adotada com sucesso no primeiro
turno contra a candidata do PSB, Marina Silva, e contra os tucanos José
Serra e Geraldo Alckmin, em eleições passadas. Diante da afirmação
estapafúrdia de Lula, talvez seja o caso de perguntar aqui: o que ele
sabe sobre o nazismo?
Exceto pelo estreito contato que mantém com a central de infâmia
montada pelo PT contra seus adversários, comandada pelo marqueteiro João
“Goebbels”Santana, como afirmou o cineasta Fernando Meirelles, numa
referência a Joseph Goebbels, o temido ministro da propaganda nazista,
Lula parece saber muito pouco sobre o regime de Hitler. Sua aproximação
com o ex-presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, fala por si mesma. Numa
prova inequívoca de má fé e ignorância histórica, Ahmadinejad, um dos
maiores inimigos de Israel, sequer reconhece a ocorrência do Holocausto,
como é conhecido o extermínio de seis milhões de judeus por Hitler, na
Segunda Guerra Mundial.
Se Lula se preocupasse mais com as ações de seu próprio partido e de
seus aliados, talvez pudesse aprender um pouco mais sobre o regime
hitlerista. Em vez de acusar os tucanos de agir como nazistas, Lula
deveria ter demonstrado um mínimo de indignação quando a blogueira
cubana, Yoani Sánchez, foi impedida de dar uma palestra no Brasil pelas
milícias fascistas de seus aliados. Mas, como ela critica a falta de
liberdade na ilha de seu amigo Fidel Castro, ele preferiu fazer vistas
grossas.
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