por Lucianne Carneiro, Martha Beck, / Gabriela Valente, Eliane
Oliveira, / Geralda Doca, Danilo Fariello, / Karla Mendes, Rennan Setti e
Lino Rodrigues
Seja qual for o resultado das urnas neste domingo, o cenário para
2015 será de inflação alta e taxa de desemprego maior, em um ambiente de
baixo crescimento econômico. O próximo governo terá que lidar com
outros sérios desafios para colocar o Brasil em uma trajetória de
crescimento sustentado da economia: a reorganização das contas públicas,
um dos maiores déficits nas contas externas do país e um rombo na
Previdência que deve superar os R$ 50 bilhões este ano ao lado do
envelhecimento da população brasileira.
Diante da pressão da elevação do dólar, do aumento de tarifas de energia elétrica e dos custos de serviços ainda em nível alto, os preços continuarão acima do que seria desejado. Nem mesmo a fraca atividade econômica, que inibe a demanda, deve compensar esses outros impactos.
Diante da pressão da elevação do dólar, do aumento de tarifas de energia elétrica e dos custos de serviços ainda em nível alto, os preços continuarão acima do que seria desejado. Nem mesmo a fraca atividade econômica, que inibe a demanda, deve compensar esses outros impactos.
O setor energético será um capítulo à parte na gestão econômica: a
falta de chuvas e as medidas adotadas pelo governo federal levaram a
aumentos em 2014 e devem colaborar para reajustes elevados também em
2015.
A dificuldade na criação de vagas, principalmente formais, deve se
acentuar e tende a levar a uma taxa de desocupação acima dos pisos
históricos que vêm sendo registrados, dizem analistas.
A preocupação se dá principalmente diante das previsões do mercado,
que espera que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fique em
6,3% no próximo ano, segundo a última edição do Boletim Focus, do Banco
Central. Já para o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto dos bens e
serviços produzidos no país), a projeção é de alta de apenas 1%.
Desde 2010, as expectativas do mercado têm sido mais otimistas que o
desempenho efetivo dos dois indicadores. Pelo boletim, as estimativas
para o IPCA feitas ao fim do ano anterior eram de 4,5% para 2010, 5,32%
para 2011, 5,32% para 2012 e 5,47% para 2013. As taxas efetivamente
alcançadas foram de 5,88%, 6,50%, 5,84% e 5,91%, respectivamente. Para
2014, previa-se em dezembro do ano passado uma inflação de 5,98% e agora
o número esperado é de 6,45%.
A conjuntura ainda terá que lidar com as consequências de um ano em
que o investimento ficou em suspenso: em dúvida sobre o futuro, muitos
empresários preferiram a cautela e adiaram investimentos.
A economia feita pelo governo para pagar juros da dívida pública (o
chamado superávit primário) despencou e isso levou ao aumento da dívida
pública em relação ao PIB. Na esteira da deterioração fiscal, a agência
de classificação de risco Standard & Poor’s piorou a nota de crédito
do Brasil, e a Moody’s colocou o rating do país em perspectiva
negativa.
A situação das contas externas é fonte de preocupação: o mercado
prevê que o rombo das transações correntes fique em US$ 81 bilhões em
2014. O cenário reúne baixa competitividade das empresas, balança
comercial com saldo perto de zero, recuo nos preços de commodities,
desconfiança dos empresários e comércio internacional enfraquecido com
lenta recuperação de países avançados.
— O ano de 2015 será difícil. Teremos que lidar com a inflação, a
deterioração no mercado de trabalho, uma economia que cresce pouco e o
problema fiscal — afirma o professor do Instituto de Economia da UFRJ
(Universidade Federal do Rio de Janeiro) Antônio Licha.
O economista Joaquim Eloi Cirne de Toledo aponta que há questões
complexas a serem tratadas ao mesmo tempo: reduzir o déficit externo, o
que exige melhora de produtividade, de infraestrutura e taxa de câmbio
mais atraente:
— Todas essas coisas têm impactos sociais e políticos. Qualquer um
que ganhar terá que tocar isso com luvas de pelica — diz Toledo.
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