Dona Filomenta mostra foto do filho assassinado |
Basta breve conversa com moradores do município para compreender aquilo
que qualificam como falta de dedicação do governo federal para
solucionar o impasse. Esse foi o estopim para Aécio ter obtido 66,63%
dos votos válidos, em Buerarema ante 25,74% de Dilma. Dos 10.720
eleitores, votaram 9.217.
A pendenga sobre regularização da demarcação de terras na região se
arrasta no Ministério da Justiça (MJ) sem resolução há anos
O mapa eleitoral de Buerarema ficou tão evidente após o primeiro turno
que o governador Jaques Wagner (PT) já anunciou que irá ao município
esta semana.
Fato é que as consequências do embate entre índios e agricultores têm
devastado as vidas dos cerca de 19 mil habitantes, que se dizem sem
alternativa em meio a casos de assassinatos - cujas investigações não
dão em nada -, economia enfraquecida, desemprego, fome, falta de moradia
e êxodo.
Ao longo dessa semana, a equipe de reportagem de A TARDE esteve na
região cacaueira onde constatou que o sentimento geral dos habitantes
dessa pequena cidade é de que o governo federal pouco ou quase nada fez
para minimizar o conflito.
Crimes
Os conflitos se intensificaram no decorrer do último ano, mesmo antes
da morte do produtor Juraci de Santana, assassinado em fevereiro deste
ano, após emboscada no assentamento rural Ipiranga, no distrito de Vila
Brasil, município de Una.
O caso, até hoje não foi solucionado pela Policia Federal, gerou uma
onda de protestos e destruição do comercio local, numa tentativa
desesperada dos moradores para chamar a atenção de Brasília sobre esse
drama peculiar no território baiano.
Os produtores rurais, com ajuda dos partidos de oposição na cidade,
iniciaram uma feroz propaganda pela candidatura tucana, encampada pelo
produtor Manoel Messias, 66 anos, que foi escorraçado da propriedade de
26 hectares pelos índios.
O fato ocorreu no ano passado, quando dez homens encapuzados lhe
invadiram a propriedade de onde tirava o sustento da família, com a
venda de cacau, seringa, banana e mandioca, tempos em que chegava a
faturar mais de R$ 5 mil mensais.
Promessas
"Passei seis meses dormindo na praça, num barraco de lona, pedindo
esmolas. Minha netinha perguntava: vovô, o senhor virou mendigo, foi?
Mal assino meu nome, só sei trabalhar na terra. Tem dias que penso em me
matar", disse, esvaído em choro.
No início do ano, Messias e outros produtores locais foram a Brasília
apelar ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, por auxílio
emergencial de cestas básicas às famílias desabrigadas e por uma solução
quanto às reintegrações de posse.
"Eu chorava que nem (sic) criança. Ele me abraçou, disse que enviaria
as cestas e que, em 30 dias, estaríamos de volta a nossas casas. Nunca
cumpriu o que prometeu. Por isso, ele e o governo federal não tem mais
nossa confiança", afirmou.
Messias diz que, por conta do que chama de descaso do governo, uma
comitiva de produtores enviou documento para o comitê de campanha de
Aécio Neves para formalizar apoio em troca de uma solução, mas ainda não
obtiveram resposta.
Cacique Babau
O personagem central dessa trama envolvendo as terras da região é
Rosivaldo Ferreira Silva, o cacique tupinambá Babau (FOTO), 40 anos, que vive
incrustado na mata da Serra do Padeiro, a 17 km da sede de Buerarema,
numa área entre Ilhéus e Una.
A cereja do bolo compreende uma área reivindicada ainda em 1927, quando
o então Ministério da Guerra decretou posse de 50 léguas em quadro de
terra (ou nove milhões de hectares) para os povos tupinambá, pataxó e
aricobé no sul da Bahia.
"As terras são nossas desde o descobrimento do Brasil. Nós ainda
optamos por não pedir a demarcação completa", diz Babau. Ele nega as
acusações dos produtores rurais. "Quanto às retomadas de terra, não
ocupamos propriedades habitadas, apenas as que estavam vazias",
defende-se.
Babau, assim como os demais tupinambás da região, é persona non grata
na cidade de Buerarema. À frente dos indígenas, Babau é tido como
partícipe e mandante das mortes ocorridas nas propriedades rurais, mesmo
sem comprovação da polícia.
"Buerarema sempre foi um reduto de coronéis, que foi montada
estrategicamente no ponto central da região, para impedir o progresso
dos povos indígenas", disparou e continuou: "Existe um núcleo financiado
na cidade para defender o carlismo".
Votos
Babau diz que apoia os governos do PT. Mas frisa que, apesar disso,
todos indígenas brasileiros estão insatisfeitos com a política de
demarcação, que "ficou estagnada" durante a gestão de Dilma.
Segundo ele, os tupinambás não votaram nas últimas eleições
presidenciais, por que tiveram os títulos cancelados. Em Buerarema houve
recadastramento biométrico. Quem não se recadastrou, não pôde votar.
Babau interpreta de outra forma: "Por que sabem que temos força
política. Para nós, tanto faz Dilma ou Aécio no poder. Ambos terão de
cumprir a lei".
Com ajuda de políticos, Babau promoveu uma revolução na aldeia, nos
últimos anos, cuja população saiu do analfabetismo e alcançou a
internet. A aldeia possui posto de saúde, biblioteca, centro de
informática, berçário, creche, escola com 660 alunos e curso superior a
distância.
São 217 famílias na aldeia, que tem 95% das casas com água encanada e
sobrevive da renda com a produção de abacaxi, cacau, banana, farinha e
seringa. A aldeia também foi contemplada com 50 casas do "Minha Casa,
Minha Vida".
"No governo Fernando Henrique, andávamos 18 km, a pé, para ir à escola.
Essa realidade mudou. As pessoas daqui acham que, para ser índio, tem
que andar maltrapilho e com a cuia na mão. Não querem ver o pobre
progredir. Por isso, que eles, os produtores, estão com raiva".
FONTE: PORTAL A TARDE
Comentários
Postar um comentário
Obrigado por comentar este tópico.