por Percival Puggina*
Sabe aqueles vídeos anunciados como contendo "cenas muitos fortes",
tipo "tire as crianças de perto"? É com iguais cautelas que se deveriam
abrir as matérias referentes às revelações feitas pelos dois mais
famosos depoentes das últimas semanas, o doleiro Alberto Youssef e o
engenheiro Paulo Roberto Costa.
Quem se tenha dado ao trabalho de
escutar o teor dos depoimentos deste último, disponível no YouTube,
ouvirá dele que em três partidos políticos com sólida presença no
Governo Federal e no Congresso Nacional se estruturaram organizações
criminosas. Não que ele assim as qualifique. Não, em seu relato, Paulo
Roberto Costa, o "Paulinho" de Lula, simplesmente entrega o serviço,
contando, em tom monocórdio, como eram feitos os acertos e a repartição
do botim das comissões entre o PT, o PMDB e o PP. Não preciso dizer qual
dos três ficava com a parte do leão.
Este escândalo, tudo
indica, transforma Marcos Valério em mero pivete e o Mensalão em coisa
de amadores. No entorno da Petrobras circula tanto dinheiro quanto
petróleo. E foi muito fácil aos profissionais da corrupção abastecer
desses tanques contas bancárias que saíam - lavadas, passadas e
empacotadas - da lavanderia de Youssef.
Vários anos decorrerão
entre os achados de agora e o trânsito em julgado de quaisquer sentenças
condenatórias. Isso significa que, muito embora os crimes em questão
tenham sido praticados num ambiente político, seus efeitos eleitorais
serão jogados para bem depois do pleito que agora se desenrola. Nós,
cidadãos, devemos lamentar que seja assim. No entanto, se não temos como
saber mais sobre os fatos e seus atores, podemos e devemos levar em
conta a dança das cadeiras nos tribunais superiores em geral e no
Supremo Tribunal Federal em particular. Será certamente ali, outra vez,
que serão tomadas as decisões mais relevantes sobre estes casos.
O
STF continuará se renovando e promovendo alterações na composição de
seu quorum por aposentadoria dos atuais ministros. E aí se impõe a
reflexão que quero trazer ao leitor destas linhas. As últimas indicações
do governo petista para o STF têm deixado a desejar. Portanto, ainda
que o julgamento definitivo vá ocorrer lá adiante, a continuidade da
atual administração federal não atende aos anseios nacionais por justiça
e combate à corrupção. É o que a história recente parece deixar bem
claro.
* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
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