A brutalidade
em Alagoinhas e região nos choca, mas não causa surpresa. Apesar de toda a luta
contra a selvageria gratuita praticada nas ruas, a plena luz do dia, as
autoridades parecem estar perdendo a batalha. Por sua vez, a sociedade se sente
indefesa e coagida pelo medo sem ter a quem recorrer. A justiça, no seu papel de punir infratores,
esbarra nos entraves da burocracia da legislação penal que caduca, mas não
morre, fazendo emergir nos corações em desalentos a sensação da cruel
impunidade. Indignação, medo e revolta são palavras que se diz e se ouve com
maior frequência nos últimos dias, mas o problema não é novo e tem nome:
violência.
O que nos
deixa confusos é entender como um país que não tem conflitos religiosos, não
tem enfrentamentos políticos extremistas, não tem guerrilhas armadas, não tem
guerra civil, não tem disputas por territórios, não está em guerra com outras
nações e mesmo assim consegue aumentar o índice de homicídio 300% a mais em 10
anos? Como se conseguiu matar mais de 1 milhão de pessoas sem epidemias ou
catástrofes naturais, nos últimos 30 anos?
A violência
vem se espalhando das capitais para as cidades do interior de forma assustadora.
A maior parte dos homicídios que ocorrem hoje está ligada ao tráfico e o alvo é,
em maioria, adolescentes e jovens negros, sem instrução e de baixa renda.
Violência contra mulher, idosos, homossexuais, crianças, são outra parcela
preocupante.
Pois é, a
violência esta cada vez mais perto de nós, e como podemos reagir? Quando
abordamos o problema, falamos em "enfrentamento da violência", mas a
própria palavra "enfrentamento" já sugere uma certa violência; ou
"combate à violência", lá vem o termo "combate" trazendo a
mesma ideia. Parece-nos aculturado que violência se vence com a própria, com a
sobreposição do mais forte sobre o mais fraco.
O próprio ato
de nascer é violento tanto com a mãe, que tem suas entranhas transformadas pela
gravidez, quanto com o feto que é arrancado do seu conforto intrauterino pela
força do fenômeno parto. O crescimento é regido pela submissão aos pais, aos
colegas mais fortes, às imposições culturais da inserção do indivíduo na
sociedade, os ditames dos desejos e anseios do próprio ser humano em conflito
com suas possibilidades. Aqui esta justificada a frase que diz que o ser humano
é violento por essência, na verdade é a caça e o caçador, o predador e a presa.
Só posso
pensar que há uma espécie de violência que talvez seja justificável e aquela
injustificável que precisamos combater. No primeiro caso diria que a violência
do nascimento se justifica pela continuidade da vida; quando um leão come um
veado, justifica-se: é a cadeia alimentar necessária à manutenção da vida
natural. Mas, no segundo caso, quando um homem asfixia sua namorada, que está
grávida, e a enterra, não há como justificar; quando um adolescente é morto de
forma banal, não há como justificar. Nesse tipo de violência, lastimável, a
Bahia hoje ocupa o terceiro lugar no ranking regional. Resta-nos compreender como
será possível viver em paz em um país que na prática está em guerra.
Talvez um dia,
quando houver mais justiça social, uma melhor distribuição de renda e
investimentos em educação e cultura, teremos mais harmonia nas relações sociais
para atingirmos o estado de paz que tanto queremos.
A imagem foi tirada do blog "Bitola Humana"
Baixe aqui um estudo da violência feito pela CEBELA-BRASIL.
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