
Uma das coisas mais importantes para um fraudador é fazer com que seus alvos não percebam que estão sendo vítimas de fraude.
Você
talvez dirá: “Mas isso é óbvio, Luciano”. Mas será que essa lição que
os auditores de fraudes aprendem logo nas primeiras aulas é tão
intuitiva assim?
Na
verdade, muitos acabam sendo enrolados exatamente nos momentos em que o
fraudador usa truques para tentar convencer suas vítimas de que “tudo
está indo de acordo com a normalidade”.
É por isso que alguns leitores ficaram indignados com o texto “O mito da invasão bolivariana”,
escrito pelo economista chapa branca Luis Nassif, do Jornal GN, outro
recebedor de verbas estatais. Mas ali ele só faz uma coisa: tentar nos
convencer de que “tudo está de acordo com a normalidade” enquanto o
governo que ele apoia usa todos os truques sujos do bolivarianismo para
tentar obter o poder totalitário.
Converso com um advogado, de um grande escritório, liberal e de cabeça aberta. E me surpreendo com seus receios: o de que a vitória de Dilma Rousseff possa ser o início de uma república bolivariana no país.Por e-mail, um ex-executivo de banco me escreve manifestando o mesmo receio.
Aqui
ele identifica o problema. Existem pessoas adquirindo a noção de que o
governo petista está dando um golpe bolivariano. A tática inicial de
Nassif é se fingir de surpreso pelo fato delas reconhecerem um fato, com
o intuito de simular que elas não deviam pensar assim.
Segue:
São pessoas supostamente bem informadas pelos meios convencionais de informação: os velhos jornais e revistas do eixo Rio-São Paulo.
Aqui ele tenta nos convencer de que essas pessoas provavelmente são enganadas pelos meios de informação que leem.
Nada disso, Nassif. Basta fuçar na Internet que as provas do golpe petista já se avolumam…
Esclareço que os problemas do PT são os mesmos dos partidos convencionais: acomodamento trazido pelo poder, apego aos cargos públicos, burocratização, fechamento às manifestações da opinião pública.Nada que o PSDB e mais partidos também não pratiquem em estados onde são poder.
O
truque é o de sempre: o de relativizar as corrupções para salvar a pele
do PT. Mas nada se compara ao que vemos no governo do PT exatamente
pelo fato de ser um projeto bolivariano, onde o saqueamento de estados é
uma prioridade.
Digo a ambos que o papel dos partidos é o de civilizar a disputa política, abrigando os diversos segmentos sociais dentro do esquadro partidário. Onde não acontece esse trabalho, a disputa política torna-se selvagem. Hoje em dia, a maioria dos movimentos sociais ganhou uma institucionalização, porque representados na esfera partidária. E o PT teve papel relevante nessa ação civilizatória.
Nós
vimos a “ação civilizatória” da UJS, que praticou um atentado contra a
sede da Editora Abril, assim como os diversos atos de terrorismo do MST.
E que tal a invasão da Folha de São Paulo pelo MTST?
O
uso de coletivos não-eleitos, especialmente aqueles treinados na
retórica de ódio, são uma contribuição do PT para tentar nos levar de
volta às eras tribais. Eles sempre rejeitam a civilização.
Seu defeito de hoje foi ter fechado as portas aos novos movimentos e burocratizado sua estrutura. Mas esses movimentos buscaram o Rede, de Marina – infelizmente servindo de escada para as ambições menores de Marina, que abriu mão de criar um partido pelo canto de sereia de um cargo em um futuro governo Aécio.
Agora
temos a técnica da porta na cara. Basicamente, para legitimar as
barbáries do presente ele pede barbáries ainda maiores no futuro.
Já vimos isso ontem no texto-truque de Sakamoto, certo?
Do lado do governo Dilma, houve o mesmo fenômeno do PT, do abandono dos conselhos de participação e outras formas de interação com a sociedade civil – incluindo os conselhos empresariais, que se manifestavam no Conselhão (o Conselho de Desenvolvimento Social) e nos conselhos reunidos em torno da ABDI (Agência Brasileira para o Desenvolvimento Industrial).
Gostaria
de lembrar ao Sr. Nassif que ambos os conselhos citados surgiram por
meio de projetos de lei, não de decreto com busca de obtenção de carta
branca para a criação de conselhos à vontade.. pelo governo federal.
Então o que assusta meus interlocutores? O advogado explica que foi a reação de Dilma às ofensas do Itaquerão, quando generalizou e atribuiu as grosserias à elite branca. E também as manifestações populares, durante sua campanha.
Aha…
Aqui
ele apela ao truque do espantalho. Inventa explicações para o tal
advogado (provavelmente Nassif escreveu essas declarações como se
escreve uma peça de ficção) e cita algo absolutamente nada a ver com o
tema.
Que
o uso da retórica de ódio divisionista do PT é um dos exemplos do
comportamento bolivariano, quanto a isso não há dúvida alguma.
Mas
o principal não é essa retórica de ódio, mas o uso de coletivos
não-eleitos para a criação de um quarto poder, censura sutil e reforma
da constituinte para aquisição de plenos poderes.
Seria o mesmo que considerar que a adesão a Aécio do submundo dos preconceitos e da intolerância transformaria sua vitória em uma Noite de São Bartolomeu.
Falsa
analogia. O discurso de ódio veio da liderança do PT. Se surgiram
intolerantes do lado do PSDB (e surgiram mesmo, de ambos os lados), eles
não vieram da campanha oficial.
Nassif mente igual os jornalistinhas de Nicolas Maduro.
Na verdade, já era hora de ambos os partidos se desvencilharem desse radicalismo que só se manifesta na retórica dos palanques.
Engraçado ele vir falar isso somente depois do partidinho dele ter vencido as eleições com base em radicalismo…
É muito cinismo.
Por trás desses medos recíprocos, há um enorme déficit informacional, devido ao proselitismo cada vez maior do jornalismo atual e à incompetência cada vez maior dos partidos. A insistência em se falar de venezuelização do país mostra que o único ponto de convergência com a Venezuela é o nível de ambas as mídias.
O
duro é que quanto mais obtemos informações de como as coisas
funcionaram na Venezuela, mais a constatação de que já estamos em fases
iniciais do bolivarianismo se solidifica.
Notem,
aliás, que em um único parágrafo ele decide atacar a mídia duas vezes,
de forma generalista, exatamente igual aos bolivarianos da Venezuela
fazem.
Aliás,
o discurso de que a mídia venezuelana era de “baixo nível” (agora,
depois das leis de mídia, tudo está, segundo Maduro e sua turma, “uma
beleza”) mostra que não há mais nada que Nassif possa esconder a
respeito de suas intenções, certo?
O
ponto de convergência é um só: governos fascistas começaram com um
desesperado ataque à mídia, de forma injustificada, como forma de
obtenção de sanção moral para censurá-las. A Venezuela conseguiu. Aqui
não vamos deixar.
Os tropeços da política econômica de Dilma não podem ser comparados ao populismo desbragado do chavismo. A busca de relações comerciais com a América do Sul, ou com os BRICs, se prende a uma estratégia geopolítica – que pode e deve ser criticada enquanto estratégia, não como uma tendência bolivariana.
Claro que podem ser comparados, pois são exatamente iguais.
O
intervencionismo econômico, o aparelhamento estatal e o afugentamento
de investidores é exatamente igual na Venezuela, Argentina e Brasil,
pois isso é parte do projeto bolivariano.
A
diferença é que no Brasil o PT teve que fazer alianças com partidos
não-bolivarianos e não conseguiu fazer tudo que queria. Ademais, nosso
país é muito mais complexo.
Mas só não se tornará uma nova Venezuela se nós, republicanos, agirmos contra os bolviarianos.
Temos
também que tirar outra mentira da frente: a aliança com países da
América do Sul. Quem foi que disse que Uruguai, Argentina, Bolívia,
Equador e Venezuela representam toda a América do Sul?
E por que esses tiranetes usaram o termo “Pátria Grande” após a vitória de Dilma?
Só
essa questão da “pátria grande” já se configura como traição à Pátria,
que deveria levar Dilma a ter que se explicar no Congresso.
Realize a cena no Congresso, iniciando-se com o hino nacional:
Aí começaria o questionamento:
- Presidente Dilma, você acabou de ouvir o hino?
– Sim, ouvi.
– Você reconhece que este é o hino nacional do Brasil?
– Sim.
– Não te ouvi…
– SIM!
– Muito bem. Em que parte desse hino é mencionada a expressão “Patria Grande”?
– …
– Sim, ouvi.
– Você reconhece que este é o hino nacional do Brasil?
– Sim.
– Não te ouvi…
– SIM!
– Muito bem. Em que parte desse hino é mencionada a expressão “Patria Grande”?
– …
O país cheio de comunistas escondidos no telhado das casas, prontos a atacar de noite, articulados pelo Foro São Paulo é uma criação midiática, pirações da sociedade do espetáculo, roteiros novelizados, assim como foi o fantasma da guerra fria que gerou o macartismo nos anos 50 nos Estados Unidos ou a Guerra dos Mundos, de Orson Wells.
Quem falou em comunistas? Aqui falamos de bolivarianos, as encarnações mais dissimuladas e cínicas do socialismo tradicional.
Como sempre, Nassif apela aos espantalhos mais canalhas possíveis.
O
texto dele, vindo de um colunista cujo blog está repleto de anúncios de
estatais, existe. Ninguém inventou nada disso. Não adianta fazer
qualquer encenação, pois até mesmo as encenações usadas pelos
bolivarianos são óbvias demais.
Aliás,
se há uma “novela”, ela pode ser escrita pelas declarações de Dilma,
Lula, Rui Falcão e outros líderes do PT falando desesperadamente em
censura de mídia, uso de coletivos não-eleitos, assembleia constituinte,
subordinação direta de todas as polícias e outros atentados contra a
democracia.
Em
tempo: que parte desse texto de Luis Nassif comprova que os pilares do
bolivarianismo (censura de mídia, coletivos não-eleitos, transformação
da polícia em milícias do governo e assembleia constituinte) não são os
pilares do governo do PT?
Desse jeito, fica claro que estamos diante de um mito: o do PT que não segue o bolivarianismo.
Nassif, melhor sorte na próxima tentativa.
Por enquanto, só conseguiste mostrar o quanto são cínicos e embusteiros os jornalistas do aparelho estatal bolivariano.
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