O ESTADO DE S.PAULO - Os políticos andam especialmente
nervosos nestes dias - e não é porque está se entrando na reta final da
campanha para as eleições de 5 de outubro. A inquietação vem do que e
quando o megadoleiro Alberto Youssef contar da história escabrosa do
envolvimento de ilustres representantes da elite do poder em falcatruas
para ninguém pôr defeito. Preso há seis meses graças à Operação Lava
Jato, da Polícia Federal - que apanhou também o ainda mais notório
diretor de abastecimento da Petrobrás entre 2004 e 2012, Paulo Roberto
Costa -, Youssef é suspeito de ter branqueado algo como R$ 10 bilhões. A
dinheirama percorria os conhecidos caminhos dos contratos
superfaturados, tráfico de influência, pagamento de propinas e remessas
para o exterior. O próprio Costa despachou para a Suíça uma bolada de
US$ 23 milhões.
Imitando o petrocrata, que teria identificado uma trintena de
figurões do governo e do Congresso Nacional que se esbaldaram no
interminável carnaval de corrupção, o seu amigo e parceiro Youssef
também achou que era o caso de fechar um acordo de delação premiada com o
Ministério Público Federal no Paraná, onde está detido. Réu em nada
menos de nove ações, foi convencido pela família a entregar a clientela
não na esperança de ser libertado, o que motivou Costa, mas de não
encanecer na cadeia. É o máximo que pode pretender, porque descumpriu a
promessa de mudar de vida quando fez um acerto do gênero há 10 anos, no
escândalo do Banestado - e isso não ficará de graça. Na quarta-feira, ao
se divulgar que ele prestou o primeiro do que decerto será um extenso
rol de depoimentos, um surto de tremedeira percorreu gabinetes políticos
e escritórios executivos.
Como se o jogo tivesse sido combinado, nesse mesmo dia o Tribunal de
Contas da União (TCU) apresentou as conclusões de uma auditoria em
quatro contratos assinados pela Petrobrás com consórcios liderados por
gigantes do ramo da construção pesada, como as empreiteiras Camargo
Corrêa, OAS e Odebrecht, relativos a obras da Refinaria Abreu e Lima, em
Pernambuco. A instalação, que começou a ser construída em 2007 para
operar a partir de 2011, é um poço sem fundo de lama. O projeto foi um
presente que o então presidente Lula pretendeu dar para o caudilho
venezuelano Hugo Chávez, que só entrou no negócio com a sua assinatura,
ficando tudo mais por conta do Brasil, aos diligentes cuidados de Paulo
Roberto Costa. Ainda sem data para ficar pronta, a obra é um portento de
dinheiro desviado. Era para custar US$ 2,5 bilhões. Já engoliu US$ 20
bi - e a contagem continua.
Agora, a mais recente perícia do TCU aumentou em R$ 367 milhões a
lambança de gastos superfaturados. Os citados consórcios se
beneficiaram, segundo o órgão, de "desequilíbrio econômico e financeiro
em desfavor da Petrobrás", do que haveria "fortes indícios", assim como
no caso de "pagamentos indevidos" às construtoras. "Os pesos adotados na
fórmula de reajustes dos contratos", relatou o ministro José Jorge,
"não retratariam a variação dos custos de produção decorrente da
inflação no período." Os reajustes mais gravosos ocorreram no quesito
mão de obra, com variações da ordem de 70% a 80%. Daquele total, a
estatal já desembolsou R$ 242 milhões. Os R$ 125 milhões restantes
seriam pagos até maio do próximo ano. Mas o TCU aprovou uma medida
cautelar obrigando a contratante a adotar uma nova tabela de preços para
pôr os valores nos seus devidos termos.
Por dever de ofício e com algum otimismo, o relator disse esperar
"uma melhoria dos procedimentos internos da Petrobrás relativamente à
delimitação das condições de reajustes pactuadas em suas contratações de
obras". O retrospecto dessa dezena de anos em que a maior empresa
brasileira foi sendo gradativamente transformada numa extensão do
aparato petista de poder desautoriza, porém, prognósticos de purificação
cabal dos procedimentos na petroleira. Isso, mesmo tomando pelo valor
de face a propalada preocupação com a lisura da atual diretoria
executiva, comandada pela presidente Graça Foster. Fica a expectativa de
que os efeitos das delações da dupla Costa & Youssef justifiquem o
nervosismo de todos quantos empanzinaram o seu patrimônio à custa do
País.
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